Este final de semana fui assistir “Na Estrada”, o filme de Walter Salles que é uma adaptação para o cinema do livro “On the Road” de Jack Kerouac . O livro de 1957 (que eu não li) é uma retrato da juventude americana no pós-guerra, a geração ‘beatnik” e é centrado na história de Sal, Dean e Marylou e suas andanças pelas estradas dos Estados Unidos, Canadá e México. O filme tem uma fotografia bonita, bons atores mas em várias horas me senti como as crianças, perguntando se iria demorar muito para chegar ao destino, pois a viagem pelas horas do filme parecia interminável. Os momentos arrastados e contemplativos de “Na Estrada” porém, não desqualificam as reflexões que ele provoca e não há como não sentir uma pequena inveja do prazer e da irresponsabilidade que os personagens do filme transbordam. Ver o filme me levou de volta a uma pergunta clássica da juventude: o que aconteceria com a minha vida se amanhã ao invés de ir para a escola ou para o trabalho, eu resolvesse ir morar na praia ? E se eu pegasse o carro e dirigisse sem destino ? Hoje em dia as respostas que viriam de minha mente seriam pragmáticas, adultas e talvez um pouco amargas: em algum momento você não teria dinheiro para colocar gasolina e seu carro pararia ou antes disto você seria preso pelo não pagamento da pensão dos seus filhos. O bom do cinema e dos sonhos é que você pode escrever roteiros de ficção…as vezes eles se despedaçam junto com o toque do despertador mas ainda assim servem de alimento para uma grande viagem do pensamento.
Arquivo mensal: julho 2012
Viagem do pensamento
Yuko,Waza-ari e Ippon
O mundo já está em ritmo de Olimpíadas de Londres. Primeiro veio a abertura..horas e horas de desfile de delegações. Serviu para ampliar o meu repertório geográfico e ter enormes vantagens competitivas caso eu jogue “Stop”, afinal Quirguistão, Tadjiquistão e Palau certamente valerão dez pontos pois praticamente ninguém os conhece . Cerimônia de abertura de Olimpíadas para mim está na mesma categoria de desfile de escola de samba ou musicais da Broadway . Ou seja: serve para você ter assunto durante o jantar em família com a sua avó mas se você tiver alguma coisa melhor para fazer na hora que estiver passando na TV, faça.
Depois da festa, ontem finalmente começaram as competições e a participação do Brasil. A judoca Sara Menezes avançava e resolvi acompanhá-la em suas lutas. Foi muito interessante…Fiquei feliz por ela ter ganho a sua medalha de ouro mas tenho que admitir que não tenho a menor idéia de porque ela foi a vencedora. Entender o judô para mim foi um enigma digno de esfinge. As lutas levam cinco minutos. Durante mais ou menos quatro minutos e cinquenta e oito segundos a única coisa que acontece é uma lutadora ficar puxando a manga do judogui da outra (japonês para leigos: não, o traje dos judocas não se chama kimono… kimono quer dizer apenas “roupa” enquanto judogui quer dizer “roupa para a prática do judô”). Elas se agarram, a faixa na cintura se solta e os cabelos ficam todos desarrumados. Fica parecendo um duelo de descabeladas, Jumas Marruás sobre o tatame. O juiz para a luta, as lutadoras se arrumam e segundos depois voltam a se atracar . De repente alguém cai…se caiu de lado é uma coisa, se caiu de costas é outra e se caiu de cabeca não é nada…De uma hora para outra cartão de advertência para uma das lutadoras. Será que é porque o cabelo ficou desarrumado ? A faixa ficou fora do lugar ? Xingou o juiz ? Sei lá. Foi complexo…
Para o espectador ignorante como eu ,Yukos, Waza-aris e Ippons foram como aquelas primeiras visitas a um restaurante japonês, tentando diferenciar sunomono, harumaki e misoshiro. Você sabe que são coisas completamente diferentes mas não as reconhece… sabe apenas que é melhor ter confiança no garçom do que tentar aprender…Você não tem idéia do que comeu mas gostou da experiência…com o judô e seus golpes tive uma sensação bem parecida. Incríveis yukos (?), waza-aris (??) e ippons (???). Ouro para a Sara. Isto é o que importa…
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Falafel


Bebê a bordo
Nada como um agradável voo de algumas horas com uma criancinha se esgoelando para despertar a insatisfação dos demais passageiros. Todos discretamente lançam olhares fuzilantes para a mãe do rebento. Por vezes além do choro, você recebe de brinde alguns pontapés no seu assento ou um puxão de cabelos vindo do banco de trás.
Li que a Malaysian Airlines, atendendo a pesquisas com seus “frequent flyers”‘ em sua maioria executivos, resolveu criar zonas child free a bordo de suas aeronaves. Em seus aviões que possuem dois andares, o andar superior agora tem acesso limitado a passageiros maiores de doze anos. Ou seja, mammys e suas proles se quiserem viajar, tem que ir de classe econômica no andar de baixo do avião. A United Airlines também parece que cansou das traquinagens dos pequenos infantes e acabou com o privilégio de acesso prioritário para famílias com crianças. Conseguiu gerar um abaixo-assinado de protesto de mães indignadas que colheu 30 mil assinaturas pedindo a reversão da medida. Os sisudos executivos, que sustentam o dia dia das companhias aéreas, estão derrotando as crianças, que continuarão voando e chorando mas em áreas limitadas dos aviões.
Aprendizado na neve
Uma das belezas da vida é a capacidade de se poder continuar aprendendo independentemente da idade. Esta semana lá fui eu para o desafio de tentar desenvolver minhas habilidades para conseguir esquiar na neve. Se colocar no papel de ignorante não é das coisas mais fáceis de se fazer (ao menos para mim..),requer uma boa dose de humildade e um exercício para deixar a vaidade de lado, ainda mais quando vários dos seus colegas de “escola” tem entre 3 e 5 anos de idade.É uma sensação um tanto estranha…você tentando frear colocando os seus skis em uma bizarra posição de pizza e sendo ultrapassado por crianças recém
saídas das fraldas e que ainda fazem questão de passar ao seu lado descendo de costas e sorrindo. O mico se intensifica com o instrutor pedindo para fazer exercícios de equilíbrio que você não conseguiria fazer nem parado, no plano e sem nada nos pés, que dirá na descida e com skis nos pés…Você tem a impressão que a estação de ski inteira está se divertindo com os seus incríveis tombos desengonçados, que te deixam em posições dignas de um kama sutra, porém gelado e sem parceira. A perseverança vence e aos poucos você vai relaxando, se abrindo para a beleza da natureza, ignorando os outros e se realizando com as pequenas conquistas como não cair na saída do
teleférico, conseguir descer uma montanha de cima a baixo e ver que você não evolui sozinho: os seus filhos que alguns dias atrás nunca haviam visto neve, agora parece que nasceram em alguma província da Suiça. O prazer não vem do grau de dificuldade da pista e sim de conseguir superar os seus limites, aprender, continuar evoluindo e sair com a certeza que a próxima vez será ainda melhor. É duro mas realmente não existe aprendizado sem tombos.