Doces férias de verão

castelo_areiaAh férias…Poder viajar com as crianças para descansar e aproveitar o verão. Que tal um resort ? Um parque aquático capaz de fazer inveja ao Wet’n Wild, comida infinita padrão cinco estrelas, bangalôs privativos de frente para o mar e de brinde, monitores com certificado ISO 9000, preparados para dominar os seus filhos em qualquer situação. O que mais se pode querer ?

Malas prontas. É hora de aproveitar. Chegamos com fome. Nada melhor do que nos deleitarmos com o primeiro banquete. Fusilli, brachiola, spaghetti e baldes de molho à bolognesa. Achei esquisito. Esta não é minha definição de banquete e nenhum imperador romano se empanturrava de pasta…Estava tudo com muito mais cara de Festa de San Genaro do que de refeição do grupo Fasano.

Eu penso comigo mesmo: deixe para lá… esqueça o seu preconceito com comida italiana, afinal você não saiu de férias para comer. O negócio é usufruir da praia maravilhosa.  Areia fina, mar azul…Mas onde sentar ? Vejo uma enorme variedade de itens sendo utilizada para reservar cadeiras…Livros, protetores solares, camisetas, toalhas, necessaires, sandálias e patinhos de borracha. Só faltou um escafandro. E cadeira livre que é bom, nada ? Parecia que tinha ocorrido uma invasão de dar inveja ao MST, com minifúndios arenosos, que apesar de tudo permaneciam improdutivos. Ah…é porque a família chegou tarde…Amanhã me vingarei de todos, serei uma espécie de Hezbollah do resort, disposto a qualquer coisa para conseguir o nosso lugar ao sol.

Coloco o despertador para às 6:00 AM. Um horário bastante nobre para se acordar em férias. Não importa…a minha missão é fincar minha bandeira naquele território hostil. Lá vou eu…Percebo que a moda deve ser tomar banho de lua, porque quando chego, encontro o mesmo quadro da tarde anterior. Cadeiras de frente para o mar absolutamente tomadas ao nascer do sol…Me resta a conquista de cadeiras longínquas, quase no manguezal e sob risco de ter o pé beliscado por caranguejos. Reflito e pondero. Ok, melhor do que nada… Espaço conquistado ! A esposa logicamente reclama mas o meu argumento que é melhor o manguezal do que a trilha sonora da piscina, turbinada pelos antigos sucessos do Compadre Washington, a convence. Flash back de Axé é para poucos e a visão de senhoras voluptuosas praticando hidroginástica é infinitamente pior do que ser perseguido por caranguejos furiosos.

Finalmente instalados ! Vamos aproveitar o dia ! Sol brilhando, calor e a criançada livre para fazer o que quiser. E o que eles querem fazer ? Nada em que você não esteja presente. Você explica que o entretenimento está a cargo dos monitores uniformizados e remunerados e que neste momento você não está disposto a ter esta função. A argumentação desta vez é fraca e derrotado, você começa a sua labuta de construção de um castelo de Versailles de areia, seguida da agradável prática de futevolêi a 40 graus. Você ainda se questiona porque só os seus filhos não se divertem com os tiozinhos do hotel. Caso perdido…a culpa é sua de qualquer maneira, afinal se eles não brincam é porque você falhou na educação. Preciso de férias destas férias…

Ricocheteando

Novo aplicativo no IPad ? Play Station 4 ? Não. O grande entretenimento das férias foi descobrir que com um pouco de técnica e uma dose de sorte, você é capaz de arremessar uma pedra e fazer com que ela quique na superfície da água antes de afundar. Foi um desafio que gerou excitação por uma semana em qualquer pedaço de rio, lago ou mar por onde passamos. Matéria prima não faltou: pedras e água por todos os lados.O prazer de ver a pedrinha ricochetear superava a diferença de idade entre nós. Simples e puro. Algumas pedras nos bastaram…

 

Autonomia movida a pilha

DuracellHoje é dia das crianças. Decidi que daria um presente especial para o meu filho mais velho.

Algo mais marcante do que um jogo de videogame ou do que uma camisa de time de futebol…Um presente que não se vende na Ri-Happy, na PB Kids ou na Bayard e que também não pode ser trocado.

Resolvi dar uma dose  de  autonomia e auto-confiança…

– Vá sozinho até a padaria comprar as pilhas que está precisando.

Ele ficou desconfiado com a oferta…Pensou em recusar, dizer que as pilhas não eram mais necessárias.

– Sozinho ?!

– É. Se quiser as pilhas, você terá que ir lá comprá-las.

– Posso levar o celular ?

– Sim. Para que ?

– Se eu me perder eu te ligo.

– Você não irá se perder mas sim, pode.

– Ok. Vou me arrumar.

– Então vá…

– Pai, dei uma olhada no Google Maps e lá fala que são 3 minutos  até a padaria. Vou seguir a orientação do Google.

– Você não precisa. Dobre a esquina e siga e em frente. A padaria fica na frente da banca. Cuidado ao atravessar a rua.

Lá foi ele…

Pela janela eu observei o início de sua expedição.  Passos rápidos, um pouco inseguros mas na direção certa. A direção do crescimento, da independência, da vida.

5 minutos depois ele estava de volta.

O troféu de seu dia das crianças estava em suas mãos: 2 pilhas Duracell.

Este presente vai durar para sempre…bem mais do que a carga das pilhas, que acabarão em breve.

Tenho certeza que eu não poderia ter escolhido presente melhor.

Ring Ring

bling-ring-1Este final de semana assisti “Bling Ring”, último filme de Sophia Coppola. “Bling Ring” conta a história real de um grupo de adolescentes bem nascidos de Los Angeles, que resolve invadir casas de famosos que estão fora da cidade para surrupiar os seus pertences. Mais do que roubar vestidos e bolsas de Paris HIlton, Megan Fox ou Lindsay Lohan, eles querem se apoderar de seu estilo de vida. A brincadeira lhes rendeu US$ 3 mi. O filme não faz julgamentos, apenas mostra como é sua rotina de baladas, drogas e futilidade subsidiada pelos furtos. Por isto o filme incomoda…todos estão assaltando casas pois estão com fome, só que a fome é de Channel, Louboutin e Champagne…A turminha quer apenas viver como vivem os seus ídolos e mais do que tudo, se exibir para os colegas, compartilhando as suas peripécias em todas as redes sociais. Assistir ao filme sem pertencer a esta geração, é garantia de se sentir um velho. Os valores do grupo são incompreensíveis, a irresponsabilidade e a inconsequência da gang são irritantes e a obsessão por um jeito “VIP” de se viver, cercado por “grifes e points”  parece uma caricatura (mas não é).  O pior de tudo é a sensação de que o crime compensou…Um tempinho de cadeia que alavancou a exposição na mídia, o número de amigos no Facebook e a admiração dos amigos.

Você sai do cinema como se “Bling Ring” disparasse um chamado na sua consciência, uma espécie de “Ring Ring” …o filme gera uma angústia para você reforçar não só os cadeados de sua  casa para que os adolescentes não a invadam (embora eles não pareçam tentados a fazer  isto, afinal você possivelmente não tem pista de dança no porão), mas os cadeados da vida, para que os seus filhos não saiam…Minha conclusão é que para qualquer pai, seria melhor se o filme não fosse inspirado em uma história real.

Lições

Imagem

Aprendi que conhecimento e cultura são as únicas coisas que ninguém te tira, mesmo sob tortura.

Aprendi que é possível capotar uma Kombi andando de marcha ré e que é impossível cozinhar macarrão com água do mar.

Não aprendi serviços domésticos de hidráulica, elétrica ou marcenaria. O “Marido de Aluguel” existe para isto.

Aprendi que inteligência e caráter não necessariamente andam juntos com roupas combinadas ou de moda.

Aprendi que construir ou reformar uma casa pode te dar prazer, desde que o empreiteiro seja bom e seus recursos e seu tempo sejam infinitos.

Não aprendi a passar as férias de inverno congelando na única casa sem aquecimento de toda a serra da Mantiqueira e encarar isto como um ato estóico.

Aprendi que as linhas da arquitetura devem ser sempre retas, mesmo que a vida seja cheia de curvas.

Não aprendi o que acontece com o corpo quando se misturam todas as bebidas destiladas, fermentadas, gaseificadas ou pasteurizadas que possam ser ingeridas.

Aprendi que a vida dá voltas mas que o tempo não volta.

Aprendi que primeiro vem o quadro, depois se encontra a parede onde pendurá-lo.

Não aprendi porque ter um carro coreano quando se pode ter um carro alemão.

Aprendi o valor da família mesmo sem ter aprendido a importância de ter uma tia avó que foi tataraneta da prima em terceiro grau da marquesa de Santos.

Aprendi que por vezes é mais fácil escrever do que falar, mesmo sabendo que o que está escrito é o que deveria ter sido falado.

Não aprendi a admirar beleza de uma usina termoelétrica.

Aprendi que herança se mede em educação e princípios e não em reais.

Aprendi que a habilidade para dançar e alongar o corpo tem um alto componente genético.

Aprendi que julgar é mais fácil do que fazer.

Aprendi que ser pai é bom e que o bom de ser pai é continuar aprendendo.

Sabor de infância

images-2 imagesNeste final de semana estive em uma festa de aniversário. Está certo que rever vários conhecidos foi gostoso e trouxe boas lembranças, mas o grande reencontro do dia foi com um sujeito que eu julgava mais extinto do que os dinossauros: a bala de coco. Junto ao bolo de chocolate, repousavam balinhas brancas que eu não via há décadas. Pensei que fosse uma miragem, mas o sabor daquela mini bomba calórica não deixava nenhuma dúvida. Em que momento da história, as balas de coco, aquelas  embrulhadas em papel crepom colorido e cheias de franjas, foram abandonadas ? Não existia festa de aniversário sem bala de coco…Qual foi o motivo ? Será que alguma promoter engasgou com uma ? Será que contém glutén ?  As “personal party organizers” de hoje em dia mataram um pedaço da minha infância…Trocaram o coitado do coco, elemento de resistência nordestina e ícone da vida tropical, pelos indefectíveis cupcakes . Nada contra, mas eu não quero comer cupcake ! Cupcakes não te propiciam aquela maravilhosa sensação de encher os bolsos malandramente na saída da festa e achar que ninguém está olhando. Isto é algo que as balas de coco sempre me deram (de vez em quando eu também tenho esta sensação  com os bem casados, mas festas de casamento estão escasseando hoje em dia. As pessoas só vão morar juntas e diminuíram o mercado de bem casados)…Estou órfão deste pequeno prazer. Mesmo depois de dois ou três dias , a cada balinha comida, eu tinha a sensação de que a festa não tinha acabado. No próximo protesto que tiver, eu já tenho a minha causa: irei às ruas para defender a bala de coco contra o imperialismo do cupcake !images-1

Lembrança de férias

Uma viagem de férias com os filhos propicia lembranças para a vida inteira. Os lugares visitados, as risadas, as brigas…As histórias serão recontadas e aumentadas por anos e anos, em todos os reencontros familiares. As fotos serão revistas, os aromas e os sons voltarão. As lembranças trarão estas férias de volta. Mas existem também as lembranças do presente…As férias te propiciam o ritmo certo para lembrá-lo que as crianças já não são mais tão pequenas assim. De perceber assustado que estão crescendo, não apenas fisicamente mas em suas vontades próprias , desejos e opiniões. A correria do dia a dia por vezes disfarça tudo isto. Você precisa da pausa das férias para confirmar que as havaianas já são mesmo tamanho 36, que um pacote de bolacha pode ser devorado em segundos e que a sua trilha sonora já não é mais soberana no carro. As férias servem não apenas para serem relembradas, servem para lembrá-lo que o tempo não volta; servem para descansar o corpo e cutucar a mente.

 

Boletim

Boletim-500x347-Filho, como será o seu boletim ?
-Pai, acho que tirarei A de inglês.
-Muito bom ! E no resto das matérias ?
-B de ciências e de história.
-Ah. Legal. Matemática ? Português ??
-Imagino que C
-Ok, precisa dar uma caprichada na interpretação de texto e nas contas de divisão.
-E você,filha ?
-Não sei. Em uma prova tirei “A+,Parabéns”, depois em outra “A,que beleza” e na última “A,Excelente”
O irmão resolve contribuir…
-Pai, ela vai tirar tudo A.
-Tudo, A ?!Parabéns. Ela deve estar orgulhosa.
Nova contribuição do irmão.
-Pai, o que ela está fazendo é muito errado. Tirando tudo A, ela deixa a professora sem ter o que fazer.
-Como assim ?
-Sim, a professora ficaria muito chateada se todos os alunos tirassem sempre tudo A. Ela está lá para ajudar os alunos a aprender e poder mostrar que ela sabe mais. Se todas as provas tiverem com tudo certo, a professora ficará triste. Por isto a professora gosta de mim, porque ela me corrige e eu aprendo. Não sei se tirando tudo A, a professora vai gostar de minha irmã.
-Ah, entendi…

O dono da bola

OLYMPUS DIGITAL CAMERABons tempos em que os donos da bola tinham alguns privilégios. Ser o dono do objeto principal de um jogo de futebol era garantia de presença no time titular, mesmo que fosse para ser goleiro. Qualquer ameaça de substituição por parte dos craques do time, era prontamente respondida com uma nova ameaça de levar a bola embora e interromper a partida. Melhor manter o “grosso” no time do que não ter jogo…Bolas de capotão eram objetos de desejo, sonhados presentes para noites de natal, eram cuidadas com afeto. Quantos muros não foram pulados, campainhas tocadas, moitas reviradas, carros parados, em busca de uma bola idolatrada e que escapou das quatro linhas ?

Eis que veio a popularização das bolas, materiais sintéticos, preços em queda nas Decathlon da vida, foram transformadas em itens de coleção e não mais de idolatria. Resultado: cada criança chega para jogar com a sua própria bola. Deixaram de ser brancas e ganharam cores e adereços. Bolas laranjas ? Desde quando temos neve por aqui ? As bolas deixaram de ser amadas e passaram a ser funcionais. Jogos de crianças começam com fartura de pelotas…uma em campo, quatro ou cinco aguardando do lado de fora.Intactas,virgens, sem sinais de dor ou cicatrizes. Hoje em dia ser dono da bola não garante mais vaga de titular…hoje é preciso ser dono do campo.

Banco do meio

banco traseiro

Entre a cruz e a caldeirinha, localiza-se o assento do meio. Seja no carro, seja no avião é rejeitado, amaldiçoado, e certamente deve ter uma baixa auto- estima. Ninguém o ama, ninguém o quer. Sentar no assento do meio é uma punição da qual todos tentam se livrar. Independentemente do trajeto, irmãos se estapeiam para garantir uma janelinha no carro. Os pais de filhos pequenos,compactuam com uma espécie de trote familiar que tem como vítima o irmão mais novo, condenado ao “meio” de modo sumário, sem direito a apelações. Esta regra predominará por anos, até que irrompa a batalha campal entre irmãos e a força física passe a prevalecer. Os pais então, sugerem um nefasto rodízio…Quem for no meio agora,vai na janela depois. Falta clareza e as polêmicas persistem…filhos exigem mais critérios para aceitar o rodízio…Quando mudarei de lugar: é por tempo ? é por distância ? é por trecho ?  Pais não se manifestam, cansados, preferem a omissão e a disputa para fugir do infeliz assento, é retomada na base da pancadaria.Triste sina do banco do meio….algum dia inventarão um programa de inclusão social para o coitado, ou um sistema de cotas de janelas para irmãos caçulas.

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