Romarinho e eu

Vai começar a partida. Você esta se virando bem. Arruma uma rede wi-fi que parece honesta e que te permitirá assistir  o jogo em seu IPad através do aplicativo da justin.tv. Começou. A imagem congela, você não ve muito bem a partida, acompanha um duelo de sombras brancas  contra azuis, mas é o famoso “bem melhor que nada”. O Paulinho chuta…quase gol…Você se empolga, manda um sms de “quase” para a sua mulher. A resposta é fria : você só viu agora ? Nossa, que delay enorme…Falta compaixão com as condições sub-humanas a que você estava sendo submetido  e ao seu estado emocional. Você torce para que, como sempre acontece, o voo atrase e você possa continuar assistindo. A pontualidade desta vez é total. Última chamada para embarque. Desliga o IPad. Entra no avião…o sinal de seu celular vai embora, não há “banda” para continuar assistindo pela internet. Plano B: liga para casa, transforma sua mulher em seu Galvão Bueno particular. Ela narra o que está acontecendo….ri, fala que o Sheik é engraçado e destaca como o Riquelme envelheceu. Falta foco, mas é companheira e te informa do fim do primeiro tempo. Empate… por enquanto está bom.
O verdadeiro martírio começa: desliguem os seus equipamentos eletrônicos. Você confunde a aeromoça americana com o garçom da pizzaria, que sempre acompanha os jogos e pergunta se ela tem informações sobre como está a partida. Ela faz cara de conteúdo e segue a sua rotina. Surge na telinha um vídeo do presidente da United – ele diz que está investindo mais de US$ 500 mi em tecnologia para que as pessoas sigam conectadas a bordo… aviões com TV e wi-fi. Fanfarrão…esqueceu de colocar  este avião neste pacote. Resta esperar 9:30 horas de voo para saber o desfecho da partida. Você passa a acompanhar o mapinha…Falta pouco para chegar.  Você cria roteiros imaginários, pensando no que ocorreu durante o segundo tempo.  Avião começa a baixar, você marotamente liga o celular. Espertalhão. Se em terra não funciona, vai funcionar voando ? Nada….Pousou.  Você conecta…
Chegam as mensagens: 1×1, com direito a gol de Romarinho, o mito, e bola na trave no  finalzinho. Alívio. Na próxima 4f o drama continua mas pelo menos será vivido em tempo real…

Hello Kitty a bordo

Você se cansou das barrinhas de cereais e do meio copo de refrigerante quente que as aeromoças te servem ? Andar de avião está sem graça ? Parece que a EVA Airways , a companhia aérea de Taiwan, resolveu fazer com que os vôos fiquem mais divertidos. Qual a fórmula ? A EVA acaba de lançar o seu quinto avião temático, baseado na Hello Kitty. Tudo começa no momento da compra da passagem, em um site especial, totalmente ambientado e cor de rosa. A partir daí o passageiro embarca em uma viagem ao mundo de Hello Kitty, da pintura da fuselagem ao cartão de embarque, passando pelo uniforme das aeromoças e pela comida a bordo (sim,nestes voos há comida)  tudo faz referência à personagem. A customização envolveu mais de 100 itens ! Os resultados parecem animadores, a taxa de ocupação dos voos nos Airbus decorados e que tem capacidade para 300 pessoas, está acima de 85% em rotas um pouco distantes de nossa realidade como Taipei-Fukuoka, Taipei-Sapporo e Taipei-Tokio. Não tenho informações sobre o piloto, se ele também viaja fantasiado ou não…mas parece que este fato não interfere na adesão dos  passageiros a idéia.  Que tal adaptarmos o conceito localmente e voarmos no avião do Cascão ? Também seria inesquecível…

 

O que você quer saber de verdade ?


Ontem fomos assistir ao novo show da Marisa Monte, chamado “Verdade, uma ilusão”, baseado em seu álbum “O que você quer saber de verdade” . Passaram-se 6 anos desde a sua última turnê e saí com a sensação de ter visto uma sessão de “vale a pena ver de novo”, aquelas novelas que a Rede Globo reprisa no meio da tarde. A estrutura deste show  é exatamente igual a dos outros espetáculos que eu havia assistido. Produção correta, profissionalismo, voz bonita e aquele ar blasé do tipo, hoje farei um favor de cantar para vocês.  Só que o tempo passou e o que era cool há  alguns anos, agora me provocou uma grande sensação de “déjà vu”, de estar um pouco defasado, sem atualização. A fórmula de reciclar versões de músicas de cantores populares que eu achava incrível, agora ficou vencida. Teve um momento do show que ela cantou uma música em italiano, em que eu tinha certeza que tinha baixado a Zizi Possi no meio do palco. Uma década atrás seria o máximo, agora ficou bem duvidoso. Reconhecer que a música dos personagens centrais da novela das 8 é um dos pontos altos do show também me incomodou um pouco… O ar de diva vintage que era “uau” , agora me gerou uma sensação de frieza e distância do público. O meu resumo é que o show pareceu um desfile de carnaval da Imperatriz Leopoldinense …Tecnicamente perfeito, tudo funciona, favorito dos jurados, você não se arrepende de ter pago ingresso, mas é completamente morno e sem sal, atravessa a passarela sem levantar a arquibancada. No fundo, quer saber a verdade ? Talvez a Marisa Monte não tenha mesmo mudado e realmente não tenha uma razão para investir em outra fórmula. Quem mudou fui eu.

La garantia soy yo

Muitas vezes quando falamos no Paraguai, a primeira coisa que vem a cabeça é a qualidade dos produtos comercializados por aquelas bandas. Relógios Cassio, uísques Juanito Camiñador e outras coisas do gênero, que brotam em Ciudad del Leste e atravessam por osmose a famosa ponte da Amizade.Embora eu sempre gostei do eterno zagueiro Gamarra, a imagem do país ficou mais simpática mesmo nos últimos tempos, quando a Larissa Riquelme resolveu esconder um celular (será que era Nokia ou Nokkya ?) no meio de sua avantajada comissão de frente.

Hoje percebi que o Paraguai,que foi tão acusado de copiar as coisas, voltou as manchetes. O país foi capaz de estabelecer um processo de impeachment de presidente que certamente nenhum outro país jamais ousou fazer. Foram pioneiros e criativos, justamente onde não deveriam. O presidente Fernando Lugo foi destituído do poder, em um julgamento no senado, em um processo iniciado ontem e encerrado hoje ! Se passaram menos de 24 horas, com um direito a defesa de 5 horas e o cidadão, que foi eleito em 2008 com mais de 40% dos votos, foi defenestrado. Não sou especialista em política paraguaia (aparecerão vários), não sei se Lugo, que era um bispo celibatário, é um bom ou um mal presidente e apenas me lembrava dele mais pelos filhos ilegítimos que foi reconhecendo pela vida .

O que esta em questão não é sua capacidade como presidente mas a maneira como foi tirado. Fato é que em 2012, alguns países da América Latina ainda dão umas rateadas inexplicáveis. Democracias são violadas, direitos constitucionais são negligenciados. Mais do que a evolução econômica do Brasil nos últimos anos, não dá para não dizer que em termos institucionais, deixamos os nossos vizinhos muito, mas muito para trás. Do outro lado das cataratas ainda acontecem golpes de estado…olhamos e parece tão longe e tão bizarro. Ainda bem que fomos capazes de evoluir…

Cano alto


Anda difícil a vida das marcas que tentam ser inovadoras. A Adidas acabou de anunciar que desistiu de lançar o seu modelo de tênis  ‘JS Roundhouse Mids’ que chegaria ao mercado em agosto. O modelo é uma criação do designer Jeremy Scott e teve uma foto divulgada antecipadamente no Facebook. Diante da repercussão negativa, a Adidas não apenas cancelou o lançamento como pediu desculpas por ter ofendido algumas pessoas. O motivo para tanta polêmica ? O tênis vem com  correntes de plástico para serem serem amarradas ao tornozelo e que foram interpretadas por alguns como uma releitura das correntes que eram colocadas nos escravos. Moral da história ? A Adidas passou a ser acusada de racismo nas redes sociais (não tenho dúvidas de que também foi acusada de desenvolver produtos de estética bem duvidosa, mas isto é secundário neste post). Na dúvida entre amarrar os tornozelos de alguns moderninhos que gostam de tênis de cano alto e fugir da polêmica, a Adidas não teve dúvidas e colocou o seu par de tênis fashion para passear…

DNA para vira-latas

Lembra daqueles cachorros magrinhos, que vivem revirando lixo e vagando pelas ruas ? Para nós eles sempre foram os vira-latas. Nos Estados Unidos descobri  que eles estão passando por um processo de enobrecimento e se  transformaram em “cães de raças não identificadas”. Para auxiliar os seus donos a encontrar as origens genéticas destes cães, os criativos americanos, que tem a enorme capacidade de transformar qualquer coisa em negócio e fazer dinheiro, criaram um teste de DNA para “street dogs” . Descobri o teste em uma daquelas revistas que funcionam como um 1406 ou Polishop, com produtos tão absolutamente inúteis como fascinantes. É o Wisdom Panel Insights que se vangloria de utlizar o maior banco de dados genético canino do mundo, para identificar as raízes ancestrais de seu pequeno animal. Para que isto ? Além de saciar a curiosidade do dono, o resultado do teste, em tese, auxiliaria o proprietário a desenvolver o plano de treinamento mais adequado para o animal (acho que apenas americanos treinam vira latas) e também para personalizar a dieta nutricional do bicho (vira-latas brasileiros em geral comem de tudo, os americanos parecem ser mais sofisticados). Tanto a recomendação de  treinamento como de alimentação se baseariam nas raças originais do cão, que seriam identificadas através do teste de DNA…

Eu juro que fiquei curioso para experimentar o teste em um cão  que conheço e que é uma verdadeira incógnita genética. É  um daqueles vira-latas legítimos, de pelo curto e quase amarelo, esperto e simpático…queria ver qual o diagnóstico que os americanos dariam… Ele é tão vira-latas mas tão vira-latas que imagino que causaria um tilt nos laboratórios.O teste é feito a partir da coleta da saliva do animal e  para brincar de “Programa do Ratinho” da cachorrada, o proprietário tem que desembolsar  USD 75,00. O preço se justifica,afinal não são vira-latas, são cães de raças não identificadas…

4 patas e chifres

Os códigos estéticos de um grupo são fascinantes…embora as pessoas  prezem por  sua individualidade, parece que tem um prazer ainda maior em ficar absolutamente iguais entre si e garantir a sua aceitação e reconhecimento entre iguais. São como centenas de ovelhas Dolly, impossíveis de serem diferenciadas entre si. O mais interessante é que por mais variados que sejam os grupos, a relação com os códigos da tribo é igual. Da turma das pontocom, onde todos  se julgam diferentes do resto mundo mas se clonam com barbichinhas e camisetas pretas  a patricinhas com luzes californianas, calças de alfaiataria e camisas brancas, passando pelos adolescentes com suas peças de roupa da Abercrombie. Ah, os adolescentes…com o apoio deles, o alce da Abercrombie se reproduz em ritmo de coelhos nos shopping centers e nas saídas das escolas .

Meninos ostentam o alce com orgulho, em camisetas, pólos e bermudas de todas as cores e estampas. A Abercrombie and Fitch é uma marca que não está no Brasil, mas os jovens dão um jeito…Importam, pedem para pais e amigos trazerem de viagem, compram parcelado, mas sempre conseguem exibir suas Abercrombies. Será que alguns meninos mais conservadores e preconceituosos, ao verem o vídeo que encontrei hoje na internet repensarão se  mantém o orgulho de ostentar as roupas da grife ?

Parece  que o alce se aproximou demais de outro animal com quatro patas e chifres. Entre ficar na moda e ser macho, qual será a aposta da tribo da juventude ?

Diga-me com quem andas…

24 anos atrás, você e seus colegas de classe do colegial (na época era assim que se chamava, agora deve ser ensino médio ou algo equivalente), se reúnem para tirar uma foto, que seria parte do álbum de formatura. O álbum sumiu, provavelmente desaparecido em algum baú, frio e úmido, talvez na casa de sua mãe, junto com cartas de amor da juventude e outras lembranças encaixotadas do passado. A grande maioria daqueles seus colegas de foto , que antes faziam parte de seu dia a dia e compartilhavam as angústias da próxima prova de química ou dos dilemas de ter que escolher uma carreira, agora são apenas rostos esfumaçados, que requerem esforço para terem os seus nomes lembrados…o tempo passou. Eis que você vê no domingo, na revista de maior circulação do Brasil, a foto em questão. Sua turma reunida, meninos quase sem barba, meninas a caminho de se transformarem em mulheres, todos com roupas bizarras e cabelos com cortes estranhos. Mas 24 anos se passaram…você não está na revista para retratar a transformação da sociedade ou em anúncio comemorativo do jubileu de prata de sua formatura…Está lá como coadjuvante, alguém que está a poucos metros de um ex-colega de classe (você nem tem certeza se ele era mesmo da classe ou porque apareceu na foto) que acabou assassinado e que por isto merece um quadradinho vermelho na imagem. Estranho…as pessoas te reconhecem na foto (certamente não pelo volume de cabelo e tampouco pelo tamanho da barriga) e perguntam como era o cidadão. Parece que te olham meio desconfiados. Ele já tinha estes gostos no passado ? Vocês andavam juntos ? Dá para imaginar que ele teria este desfecho ? Volta um filme na sua cabeça e você concluí que jamais trocou duas palavras com o cidadão e que não sabia nada sobre ele…Incrível como existem pessoas que passam pela sua vida sem deixar marcas.

Medidas de segurança

Cada país tem suas próprias leis e regras e cabe a você como visitante respeitá-las e em alguns casos, no máximo, tentar decifrá-las. Nos Estados Unidos, a preocupação com terrorismo gerou uma série de regulamentações que se espalharam pelo mundo. O semi strip tease para se embarcar em um avião e a restrição a líquidos a bordo da mala de mão são bons exemplos. São as “medidas de segurança”. Nesta viagem, aprendi mais algumas para ampliar o meu repertório…a primeira foi em uma loja de departamentos, onde ao comprar um par de sapatos, eu disse que não precisava da caixa. Vetado! Por questões de segurança eu necessitaria levar a caixa embora. Assim procedi. Até agora não entendi a lógica mas deve existir alguma. Será que sem a caixa, eu ficaria propenso a dar sapatadas em outros consumidores ?

Um dia depois, uma nova aula de segurança. Desta vez no estádio de futebol ao comprar um refrigerante em garrafa pet . Me entregaram a garrafa aberta e  a tampinha foi confiscada ! Tentei implorar pela tampinha, sem nenhum sucesso…Enquanto minha bebida perdia o seu gás, concluí que aquilo era uma forma de prevenir que em um acesso de fúria eu arremessasse a garrafa na cabeça de alguém. A verdade é que mesmo sem tampinha, uma garrafa cheia ainda tem um bom potencial de estrago…

Descobri também que nos EUA,  exibir bebida alcoólica na rua não pode, mas no estacionamento de estádios e autódromos é permitido.  Ou seja, o churrasco na lage (no asfalto, para ser mais preciso) rola solto e o “esquenta”  é liberado. A turma fica calibrada já do lado de fora. Acho que se a tampinha é proibida, a lata de cerveja no estacionamento deveria ser muito mais…vai que alguém arremessa no carro do lado. Fiquei com a certeza que ainda irão proibir…. É só uma questão de tempo para alguém se atentar…

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