Mandela descansou. Finalmente foi sepultado. Depois de ficar trancafiado em uma cela solitária por 27 anos, talvez merecesse um bônus divino e direito a uma prorrogação maior de vida, com direito a chegar inteiro aos 200 anos, mas não teve jeito e sua hora chegou. O mais incrível foi ver a transformação dos fatos ao longo da semana. O day after à sua morte começou com elogios ao seu espírito conciliador, sua liderança, carisma , o seu papel decisivo em juntar os cacos de um país, reconhecimento como uma das maiores lideranças do século. Enfim, havia um clima de consternação global, com homenagens por todos os cantos.Uma rara unanimidade….
Os dias foram passando, parece que as notícias e os obituários perderam impacto e eis que um clima de quermesse se abateu sobre a África do Sul. Teve de tudo: um fun tour de todos os ex-presidentes brasileiros vivos, chaveco do Obama com direito a selfie com a primeira ministra da Dinamarca e David Cameron segurando vela, biquinho ciumento da Michelle, Naomi Campbell em uma performance teatral, com cara de viúva inconsolável, Bono Vox pronto para subir no palco e pregar e a cereja do bolo, que foi um picareta fazendo uma tradução inventada e cheia de licenças poéticas para a linguagem de sinais. Todos viajaram para um funeral e se comportaram como se fosse carnaval.
Mandela sábio e mito, deve ter visto tudo de cima e dado boas risadas. Sempre esteve bem acima de tudo isto. Não deve ter ligado…mas que seu funeral virou uma quermesse, isto virou.