Feriado: dias de chuva interminável na fazenda e oito crianças entre 8 e 10 anos para administrar. O dilúvio determina o ritmo das atividades : não tem cavalgada, não tem piscina, não tem jogo de bola. A situação de tédio não é nada diferente do que eu cansei de vivenciar na minha infância.
Me preparei para o desafio e desenhei o plano anti-aborrecimento : retomei mentalmente regras de jogos de cartas, as estratégias de partidas de WAR (Alaska ataca Vladivostok) ou Banco Imobiliário (comprar rápido a Avenida Atlântica), lembrei da TV Globo com “Sessão da tarde” e seus clássicos como Flipper ou Digby ( “O maior cão do mundo”), e relembrei brincadeiras de Esconde Esconde, Gato Mia e até pensei na de médico, que rapidamente achei mais prudente esquecer . Me julgava um “tio” capacitado para enfrentar a monotonia, com um arsenal de entretenimento que garantiu a minha sobrevivência por vários anos.
Depois de 3 dias e vários mm de chuva, frustração absoluta: todas as propostas foram veementemente rejeitadas de maneira unânime … Estamos em 2012: 8 crianças, 8 Ipads. 8 soluções independentes e solitárias. Brigas agora são causadas pela posse dos carregadores para assegurar que nenhum equipamento descarregue e que os jogos virtuais não sejam interrompidos…
Ninguém é acusado de roubar, de mentir, de ter inventado regras. Os tablets não roubam e não mentem. As regras são soberanas. Ao invés de temer pela “morte de tédio” das crianças, meu receio passou a ser que algum equipamento super aquecesse e explodisse no seu colo por excesso de uso. Continuou chovendo e fiquei com a certeza que apesar de seus IPads haverem descarregado, a energia dos oito permaneceu acumulada. Novos tempos, novas fórmulas.