Natal de verdade

Já é noite de natal aqui no Japão. A influência ocidental até aparece em uma ou outra árvore decorada espalhada pelas cidades ou por alguns poucos vestidos de papai noel de olhos puxados. Pára por aí. Não é feriado. Não há correrias aos shoppings e a vida segue. Para nós no entanto, a noite é especial e diferente. Às sete horas tivemos a nossa ceia. Esqueçam peru, chester e tender. Vestidos de quimono (vou levar de recordação da noite de natal e para uma possível festa a fantasia) tivemos uma ceia de múltiplos pratos: arroz com caranguejo e gengibre, sashimi de lula, sopa de cogumelos com tofu, raiz de flor de lótus com mostarda e brinde a base de saque. Nada de camiseta e ventilador ligado na sala…agora lá fora está zero graus. A comida e a temperatura não importam tanto e não são elas que fazem um natal de verdade. O que importa é o espírito e quem está ao seu lado. As duas coisas estão ótimas. Feliz natal !メリークリスマス

Lembranças de natal

Confesso que tive um choque quando vi a turma da Rede Globo cantando o seu clipe de natal embalados pelo Robertão. O William Bonner de carteiro, a Angélica de empregada doméstica e o Faustão de garçom certamente negociaram um bônus dobrado para se prestarem a estes micos. O peru da Andréa Beltrão deveria estar recheado de cogumelos alucinógenos…parece que ela está em uma rave natalina. E a animação da Cléo Pires ? Em velório ela deve demonstrar maior entusiasmo…
De qualquer maneira, é impossível ouvir “hoje é um novo dia, de um novo tempo” e não lembrar da infância e das noites de natal.
São inesquecíveis as rodas em torno da árvore na casa dos meus avós, que começavam com as velas sendo acesas ao som de “O Tannembaum” e sempre terminavam com um discurso de meu avô agradecendo pelas conquistas do ano e dando boas vindas aos novos membros da família. E a árvore natural gigante , de 5m de altura, da casa dos meus pais ? Decoração com bolas vermelhas que se espatifavam no chão ao menor toque, laços e velas.

Presentes marcantes, presentes frustrantes,momentos emocionantes, momentos alegres, momentos muito tristes.Abraços, beijos,brigas, uniões,afastamentos. É natal, quanta coisa volta na cabeça e quanta coisa se projeta para o futuro. Tem os que adoram, tem os que detestam, mas todos concordam que é a hora do balanço, hora de reflexão e de pensar no que virá no ano que vem…Não dá para esquecer que hoje é natal.

Crônica de quase natal

O natal está chegando e com ele vem junto aquele momento do ano em que o amor predomina. Começa pelo processo fácil de se pensar em quem merece presente e o que comprar. Algumas famílias adotam o empolgante amigo secreto e discutem por semanas qual a regra mais justa. Bem coerente com o espírito de natal,se fazem alianças, conchavos e artimanhas para que os favoritos não sorteem os chatos…Outras famílias abdicam da troca de presentes e agora fazem apenas doações para crianças desamparadas e lares de velhinhos. Existe um grupo mais conservador que estabelece informalmente que os homens troquem entre si caixas contendo camisas da Richard’s com variação da cor da listra e que as mulheres se surpreendam com a fragrância do sabonete L’Occitane que ganharão (será Verbena, Oliva ou Chá verde ?).
As avós competem para ver quem entrega o maior embrulho para os netos, tias distantes distribuem a todos pares de meias sociais, os amigos que gastam pouco dizem que não é um presente e sim “apenas uma lembrancinha”, um tio gordo se veste de papai noel com barba de algodão e todos, inclusive as crianças, morrem de medo. Já os casais discutem e brigam para ver se comerão o perú com a família de um e a sobremesa com a família do outro, ou vice-versa . Não estar presente na hora em que o perú é fatiado é prova de falta de amor e desperta sentimentos de vingança eterna.
Enfim, muda o endereço, o tamanho do embrulho, os personagens mas o enredo é quase o mesmo. É época de natal…Odiamos, reclamamos mas adoramos. É quando a família é mais família. É difícil viver sem…

Presentes de natal em tempos de paranóias terroristas

O natal está chegando de verdade (embora nos shoppings os duendes e as renas já estejam trabalhando desde outubro e o panetone esteja nas gôndolas dos supermercados desde o natal passado…), o espírito de todos fica mais solidário, começa-se a pensar nos presentes e nos encontros familiares do dia 24 (algumas famílias discutem isto desde a páscoa). Tem gente no entanto, que não relaxa nunca…Veja o caso da TSA (Transportation, Security and Administration – órgão responsável pela segurança dos aeroportos dos Estados Unidos): em seu blog (http://blog.tsa.gov) eles se dedicam a explicar que não á intenção deles, mas se for o caso, eles não terão nenhuma dúvida em abrir os presentes, mesmo que embrulhados para o natal e destinados a uma criancinha que sonhou o ano inteiro com aquilo, se comportou e escreveu cartinhas!

“We want your gift to arrive wrapped just as much as you do. Just know the possibility is there that if the item alarms, we might have to open it to resolve the alarm. We don’t enjoy unwrapping presents that aren’t for us, but if an anomaly is detected inside, we’ll have to unwrap it in order to determine what it is so we can clear it for travel.”
Não é por acaso que o pessoal que trabalha no TSA recebe vários e-mails chamando-os de “Grinch” , o personagem que o Jim Carrey representou no cinema e que ficou conhecido por odiar o natal…

Revivendo os cartões

Nas últimas viagens que fizemos resolvemos retomar um hábito secular, que parecia definitivamente esquecido nos tempos de e-mails e tweets: enviamos cartões postais a amigos e parentes. As pessoas que recebem estranham um pouco (dependendo da imagem do cartão ficam chocadas…). Parece que não entendem como um cartão pode demorar tanto chegar, ficam desconfiadas de ver um selo colado e uma mensagem escrita a mão com uma letra que por vezes não reconhecem (você já reparou que atualmente não sabemos mais se as pessoas tem letra “bonita” ou “feia” ? Só nos comunicamos em fonte Arial tamanho 10) . A verdade é que a personalização da mensagem virou um ritual gostoso. Compramos os postais e selos, escrevemos, vamos ao correio (sim, ainda existem agências de correio) e esperamos a reação do destinatário…

Estamos pensando em repetir a dose para o natal (logicamente que com muitos carimbos de renas, papai noel e árvores). Será uma forma de resgatar a tradição e confesso, evitar que as caixas de entrada das pessoas travem com e-mails de correntes natalinas de estética questionável. Não faz muitos anos que eu media minha popularidade pelo número de brindes e cestas que eu recebia de fornecedores…quando a verba começou a diminuir e os códigos de conduta das empresas começaram a vetar o recebimento de presentes, cresceu rapidamente a quantidade de cartões Unicef….o tempo passou e de uns anos para cá só tenho recebido via e-mail os power points de alguns gigas que não abro por medo de vírus. Imagino que com todo mundo seja igual. É hora de reviver a tradição. Viva os cartões: postais, de natal e de crédito !

Delicadeza contra a violência

Será que com uma ação poética e singela você consegue tocar o coração de guerrilheiros frios e impiedosos ? Esta foi a abordagem usada neste case chamado “Operation Christmas” que teve como objetivo estimular guerrilheiros colombianos das FARC  a abandonarem a luta armada e retornarem para as suas famílias. Parecia algo impossível de ser obtido…não há mídia para acessá-los, eles são vítimas de uma intensa “lavagem cerebral” desde que são aliciados ainda adolescentes e o abandono a guerrilha é punido com a morte. O vídeo conta os detalhes de como o projeto foi realizado mas a idéia central foi iluminar árvores de natal no meio da floresta com uma mensagem de que as famílias aguardavam o seu retorno. Conceito simples, execução complexa, resultados incríveis tanto na quantidade de guerrilheiros que desertaram como na quantidade de prêmios que esta ação obteve pelo mundo.  Deu vontade de ter participado do time que idealizou, os caras tem que ficar orgulhosos…

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