Mostarda mas não falha

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Mostarda mas não falha…#fato real

Você vai caminhando pelos corredores do supermercado, cumprindo pesarosamente as suas obrigações caseiras mas aproveitando o seu momento de soberania sobre o carrinho de compras para substituir alguns itens requisitados na lista  por similares sensivelmente mais baratos e que ninguém (ao menos você) percebe a diferença. Compras padrão Venezuela. Chega a hora do Ketchup…Que Heinz, que nada ! Vamos de Qualitá…se alguém reclamar, direi em casa que os tomates vêm da fazenda orgânica do filho do Abílio. Na vizinhança do Ketchup estão as mostardas…Dijon com mel é para frouxos…ninguém precisa disto para sobreviver.  Sigo em busca de qualquer coisa amarela mais em conta, pode até ser condimento sabor vapor de mostarda.  Eis que me vejo petrificado, atingido por um raio congelante. O meu cérebro, ainda ativo, agradece a todos os deuses por não trabalhar mais na área de Marketing e ter que defender o responsável pelo lançamento de um produto que traz em seu rótulo os dizeres “Mostarda mas não falha”. Fico pensando se alguém aprovou mesmo isto ou ocorreu um processo de mutação nas embalagens armazenadas no estoque do Pão de Açúcar, sem qualquer interferência humana, tipo barragem de Mariana, massacre do Carandiru ou cratera do metrô.

O selinho de “novo” não deixa dúvidas…Tem gente que foi recompensada financeiramente pela criação deste produto inspirado em um dito popular…Como acredito que o pai (ou a mãe) da criança preferirá o anonimato na continuidade de sua carreira, gostaria de propor algumas idéias novas para que mesmo clandestino(a) ele(a),  o gênio(a) possa continuar a desenvolver o seu portfolio e dar vazão à todo o seu talento de Marketing. Algumas sugestões:  “Desodorantes tarde do que nunca”, “Filé de peixe, peixinho é”, “Não adianta chorar o leite semi desnatado derramado”, “Água mineral tanto bate até que fura”. Ah…marketeiros…onde foram parar os customer insights, os algoritmos ? Na busca incessante pela inovação alguns de vocês acabaram perdendo a noção…

Macarronada

massas_macarronada_da_mamaQuando você vai a um açougue sabe que pagará mais caro por um pedaço de carne macia e sem gordura. Existe até um senso comum de nomear a peça como sendo de primeira ou de segunda categoria…Você não paga pelo coxão duro o que paga por um filet mignon e os destinos de ambos nas panelas são bastante diferentes. O seu paladar reconhece esta nobre segmentação bovina e indo até um pouco além do universo dos ruminantes, há até um dito popular que diz que não se deve comprar gato por lebre. Churrasquinho de gato é facilmente reconhecível…

Mas e o glorioso macarrão, de origem chinesa mas verdadeiro orgulho mamas e nonas ?  Alguns fatos moldaram a minha percepção sobre o nobre alimento e distorcem um pouco o meu julgamento:  a) era a comida típica de minhas viagens de estudantes quando todos precisavam se alimentar e gastar pouco; b) era um elemento que aparecia na mesa apenas quando minha mãe não queria ter muito trabalho na cozinha; c) era a versão com sotaque italiano do “colocar água no feijão” que eu encontrava na casa de amigos, ou seja aquela travessa cheia de spaghetti pronta para alimentar um batalhão (incluindo os visitantes de última hora). 

O que diferencia um fantástico macarrão de um macarrão de segunda ? A qualidade da farinha ?? Para mim macarrão é macarrão e pronto.  Ando um pouco assustado em  me deparar em restaurantes com pratos de pasta (chamar o macarrão de massa também ficou obsoleto) que se aproximam velozmente dos três dígitos, em ritmo inversamente proporcional ao seu tempo de cozimento e complexidade de preparo. Muda a forma (chatinho, gravatinha, parafusinho, tubinho) , muda a cor (tem aqueles tingidos de espinafre e beterraba) mas o produto final é rigorosamente igual. Macarrão vai para a panela e fica pronto em menos de dez minutos . Tenho uma tese que garante que o lugar certo de macarrão é em fast food, sendo pago com ticket, modelo Spoletto. Não sou adepto da argumentação dos restaurantes italianos chicosos de que o “nosso molho é feito com tomates frescos e selecionados”. O molho é verdadeiramente melhor mas Isto só  ajuda a não sentir a azia que eu sentia com as latas de Pomarolla…o macarrão é igualzinho ao do fast food…

Hamburger plácido do Ipiranga

IMG_1988São Paulo se orgulha de ter milhares de restaurantes que oferecem todos os tipos de comida para todos os bolsos. Quando penso em quais deles eu frequento, chego a conclusão que o meu hábito se sobrepõe a abundância de oferta . Conto nos dedos das mãos os lugares em que vou. Coloquei como meta fugir por um tempo do circuito gastronômico de dia a dia e do mundinho Jardins. Garçons modelo, com barbinha rala, tatuagens de caveira e camisetas pretas estão me dando uma certa preguiça. Nada de preconceito..É uma fase transitória…um dia eu volto…
IMG_1989O primeiro passo foi dado. Finalmente fui me encontrar com o hamburger do Seu Oswaldo, que fica no bairro do Ipiranga. O lugar não faz concessões a Milk Shakes, batatinhas com queijo cheddar e nada que passe perto de ser qualificado como gourmet. Você vai lá para comer o hamburger e ponto final. Ambiente simples,esquema balcãozão. Fila de espera grande… Nada de hostess com senhas eletrônicas que vibram e piscam como árvores de natal. Te chamam no grito mesmo, afinal estamos no Ipiranga e efetivamente o ambiente parece estar igual desde os tempos de Dom Pedro. E a comida ? O X-Salada tem o charme de substituir rodelas de tomate por um molho com tempero caseiro…Meu sanduíche veio um tanto esmagado  e precisei comer dois para compensar o tamanho microscópico. Foi Gostoso. Mas acho que melhor do que o sabor foi a experiência. Valeu o programa.IMG_1997

Falafel

Seu filho de quase dez anos embarca para uma viagem a Paris. Você sabe que ele tirará fotos da torre Eiffel e do Arco do Triunfo, passeará as margens do Sena e visitará a Monalisa. Conhecerá Paris e guardará as suas lembranças de uma das cidades mais bonitas do mundo. Você fica feliz pela experiência que ele está tendo e ao mesmo tempo  um pouco triste pela saudade e frustrado de não estar mostrando a sua Paris para ele, da maneira egoísta e pretensiosa que você acredita que a cidade deva ser mostrada. A torre é de todos, a Monalisa é primeiro dos japoneses e depois de todo o resto mas você precisa mostrar para ele que tem um pedacinho de Paris que não é de todo mundo, que não pertence a multidão, é apenas para ele se lembrar de você.
– Filho, vá ao bairro do Marais (lembre-se de um Marreco…) e você verá um monte de restaurantes vendendo um sanduíche com um bolinho chamado Falafel. Experimente . Papai adora e você também irá gostar…
Os dias passam, os bolinhos de grão de bico caem no ostracismo e despretensiosamente você telefona para saber da vida
– E aí filho ? Como estão as coisas ? Foi na torre ? No Louvre ? Versailles ?
– Não pai, hoje estávamos andando pela rua e eu experimentei aquele bolinho que você me falou….É muito bom !
Nunca me senti tão conectado ao meu filho por causa de um falafel…O sabor  disto foi delicioso…infinitamente melhor do que o do sanduíche de bolinhos de grão de bico frito, foi gosto de sintonia ….de presença, mesmo a distância.

Bife com batatas

Ontem fomos jantar no L’Entrecote d’Olivier , mais um daqueles restaurantes que tem apenas um prato. Você vai lá e o máximo que faz é escolher a sua bebida e o ponto de sua carne. O resto está definido: salada verde, o entrecote (um bife com grife) e as batatas fritas. Não é muito diferente de ir ao Bolinha com sua feijoada ou a outros lugares que fizeram sua fama baseados em um prato só, como o Bar do Alemão com seu Bife à Parmeggiana. Sempre fiquei pensando na moleza que é administrar este tipo de restaurante em que todo mundo pede a mesma coisa: fornecedores definidos, compras em escala, giro mais rápido de mesa, menos treinamento dos garçons. Deve ser o sonho de qualquer dono de restaurante.

Durante o jantar  no entanto ,tive um insight na outra direção: como  deve ser difícil gerir a frustração do chef…O coitado não pode criar nada, não está autorizado a colocar sequer uma salsinha para enfeitar o prato e se o restaurante sobreviver, tem uma perspectiva de ficar fritando bifes com batatas pelas próximas décadas . Experiências em seu currículo ? Fritar bifes com batatas…Fiquei pensando no Olivier tentando motivá-lo…ninguém frita bifes como você ! A sua batata frita é a melhor do mundo, continue assim ! E os feedbacks ? Sinto que você pode melhorar no seu bife mal passado…ajuste um pouco mais a espessura da batata para que ela fique mais crocante… Deve ser um tédio… o coitado do chef tem que fazer produção industrial na sua cozinha e absolutamente ninguém reconhece as suas potenciais virtudes de inovação. Sensação parecida deve ter o diretor de arte premiado com leões em Cannes fazendo campanhas de dia das mães para as Casas Bahia…um verdadeiro choque de realidades em que a criatividade não tem muita vez. Ah, o jantar ? Comida honesta, mas a companhia estava bem melhor que o bife com batatas.

Fora de foco

São Paulo organiza um evento cultural com centenas de atrações, 4 milhões de pessoas vão às ruas e o foco está no caos para se conseguir comer a “galinhada” do Alex Atala. Entrevista-se o prefeito para que ele explique o  porquê da falta de  comida chique para a multidão.  A galinhada do Minhocão é tratada de forma similar aos brioches da Revolução Francesa.


O Rio de Janeiro tem uma final de campeonato de futebol, o Fluminense ganha de quatro, faz um gol de bicicleta e o principal destaque do jogo é uma gandula popozuda transformada em sex symbol na semana anterior. A gandula musa aparece em todos os programas possíveis, dá entrevistas e é elevada ao patamar de uma Angelina Jolie do Engenhão.



A chegada da Carolina Dieckmann a delegacia para prestar esclarecimentos sobre o extremamente relevante vazamento de suas fotos íntimas (que contribuíram para alegrar o final de semana de adolescentes por todo o país), tem cobertura de imprensa digna do julgamento de criminosos contra a humanidade. Depois de 7 horas de depoimento (como ela conseguiu falar 7 horas sobre isto ?), ela sai sem querer falar com a imprensa (quem sabe não haverá uma exclusiva no Fantástico ? Ou uma visita ao Faustão em que comentará sobre as lições do episódio, como daqui para frente utlizar um pen drive ou HD Externo para arquivar as suas brincadeirinhas …)

Neste últimos dias fiquei com a sensação que minha visão de mundo está um pouco desalinhada em relação as prioridades da  grande mídia. Estou fora de foco. Preciso rever meus conceitos…exigir galinhada de graça,  reverenciar a gandula como deusa e ficar com pena da ingenuidade da Carolina…

O verdadeiro grito

Esta semana leiloaram “O Grito” do pintor norueguês  Edvard Munch por US$ 120 milhões, quebrando o recorde de valor pago por uma obra de arte . O comprador não identificado, ao que tudo indica foi um colecionador particular. Fiquei pensando nas reações que o sr. Munch teve em seu túmulo…Certamente primeiro também gritou de espanto, não acreditando no  valor alcançado. Depois seu ego deve ter inflado…sou bom mesmo: esqueçam holandeses sem orelha, ou os espanhóis, sejam aqueles de bigodinhos duvidosos ou os outros que transformam suas mulheres em peças de quebra cabeças. O recorde é meu !

Depois da euforia, Munch deve ter refletido um pouco mais: foi para isto que pintei meus quadros ? Eu estava angustiado, deprimido, meus pais me controlavam, queria apenas me expressar e por isto fiz “O Grito”…  De repente a minha dor virou objeto de fetiche para enfeitar paredes de colecionadores milionários pelo mundo. Tenho quase certeza que os milhões pagos pelo “O Grito” vão muito além da satisfação de ter em casa a obra prima do expressionismo, o verdadeiro grito de quem o comprou é  :   “Ei amigos…o meu é maior que o seu… sou mais rico e  eu posso”… Satisfazer o ego pode valer mais do que US$ 120 milhões.

1/2 calabresa e 1/2 muzzarella on line

Sou um adepto do e-commerce para várias coisas. Já comprei geladeira, máquina de lavar, livros, passagens aéreas e se eu puder escapar de ter que ir ao shopping ou ao supermercado para comprar qualquer coisa, estou dentro. Ainda não me converti no entanto, a fazer pedidos de comida pela internet. Não estou falando das compras do mês…me refiro a boa e velha pizza de domingo para ser entregue em casa. Não sei porque, mas tenho quase certeza que o tiozinho da pizzaria de bairro, que já tem dificuldades em entender a diferença entre calabresa e portuguesa em um pedido feito por telefone, ainda não migrou para o mundo digital. Pode ser um preconceito descabido mas a verdade é que a única vez em que fui convidado para um jantar em que o pedido de pizza foi feito pela internet, a refeição quase se transformou em uma ceia da meia noite, pois esqueceram de processar a compra na pizzaria.

Verdade é que li no http://www.brandrepublic.com que mais da metade dos pedidos de pizza da rede Domino’s na Inglaterra já são feitas via e-commerce, sendo que um quarto deste volume é solicitado por aplicativos instalados em telefones e IPads. A Domino`s é enorme…fatura £144.2m por ano e isto significa vender uma montanha de pizzas. Apesar da minha desconfiança o sistema deva estar funcionando bem e os ingleses não parecem estar passando fome ou terem sido esquecidos…são mais de 500.000 fãs da pizzaria no Facebook. Nem lembro se a Domino`s ainda existe aqui no Brasil mas serei obrigado a testar, menos pelo sabor da pizza e mais para superar o trauma…

A lei do Bauru

Li hoje que o Ponto Chic, restaurante onde o sanduíche Bauru foi criado, está comemorando 90 anos. O sanduíche se transformou em uma lenda e foi criado quase por acaso em 1936, quando um frequentador do restaurante, originário da cidade de Bauru e assim chamado pelos seus colegas de faculdade, pediu a um funcionário do local para montar o lanche pela primeira vez. Um colega que estava por perto, experimentou e gritou para o funcionário: quero um igual ao do Bauru! E assim o nome foi ficando…
Aprendi também no G1.com.br que o sanduíche é tão importante para a cidade de Bauru que ele é protegido por lei municipal que estabelece quem são os estabelecimentos certificados para sua preparação(Ponto Chic e Skinão) e não apenas quais são os ingredientes da receita original (a propósito: pão francês, fatias de rosbife, tomate em rodelas, picles de pepino em rodelas, mussarela, orégano, água e sal) mas também a forma de preparo.
Parabéns ao Ponto Chic e reverências ao já falecido sr. Casimiro, o Bauru, responsável pela invenção, mas fiquei refletindo no tempo dos vereadores dedicado a tão nobre questão e como foi a sessão da câmara tratando do tema. Será que o congresso americano faria algo equivalente para proteger o Big Mac ? 2 Hamburgers, Alface, Cebola, Picles, Queijo, Molho Especial em um pão com gergelim…De qualquer maneira a reflexão sobre o bauru me deu água na boca e vontade de comer um sanduba.

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