Rio de Janeiro, 450 anos ! Rio de Janeiro sem futebol, não seria Rio de Janeiro e nada mais justo que o time mais popular da cidade se manifestar para comemorar a data. Tudo muito bom, tudo muito bem mas o que era para ser uma leve gozação do Flamengo com a concorrência, acabou virando um belo gol contra. Os publicitários flamenguistas podem até ser bons de layout mas são catastróficos em equações matemáticas. Não teve jeito da conta deles fechar… Se a torcida do Flamengo é mais da metade, fica bem difícil a outra metade sonhar em ser rubro-negra. A solução da equação foi tirar o anúncio do ar. As agências de publicidade, além de revisores de texto deveriam começar a contratar também revisores de tabuada e frações.
Arquivo da categoria: Futebolístico
Matemática Flamenguista
Publicado em Cotidiano, Futebolístico, Mundo de Dilbert
Fenômeno !
Ronaldo é membro do comitê organizador da Copa do Mundo de 2014. Ronaldo é dono da agência que cuida da imagem de Neymar. Ronaldo agora é comentarista esportivo contratado pela Rede Globo. Acho que é mais fácil eu me transformar no maior artilheiro de todas as Copas do Mundo, mesmo iniciando minha carreira futebolística aos 42 anos, do que o Ronaldo conseguir explicar como concilia eticamente estas funções…Não que ele esteja muito preocupado com as minhas bandeiras de moralidade, mas se ele me convencesse que não há conflito de interesses entre estas atividades, eu teria que reconhecer que ele é realmente um Fenômeno, com ou sem a bola nos pés.
Publicado em Futebolístico, Mundo de Dilbert
Primo distante
O jogo também tem onze jogadores para cada lado, trio de arbitragem, bola, gramado e torcida, mas acho que as semelhanças param por aí…Os onze jogadores correm o tempo todo, jogam sempre em direção ao gol, não perdem muito tempo reclamando com o juiz e se atirando no chão. A bola rola em um gramado perfeito, sem “quero queros”, morrinhos artilheiros. A torcida está lá, cada um no seu assento, sem sinalizadores, sem arremessos de sandálias e garrafas. Não tem escudo humano feito por policiais para o jogador bater o escanteio e ele também não precisa empurrar o fotógrafo para ter espaço…Parece até que as imagens da TV conseguem deixar o jogo mais bonito…Tem close, replays de duzentos ângulos, estatísticas e nada de comentarista de arbitragem…
Tem coisas muito estranhas…O zagueiro Dante, do Bayern, faz um penalti primitivo, digno de Betão eterno, quase coloca tudo a perder mas é ainda assim é endeusado pela torcida ao final do jogo. Do outro lado, o melhor jogador do Borussia, anuncia que está de mudança para jogar no rival Bayern, alega dores musculares (versão germânica para chinelinho), não joga, mas fica no meio da torcida amarela, torcendo e comemorando. Tanto Dante como Mario Gotze saem vivos do estádio, sem notícias de que seus carros tenham sido destruídos e suas famílias ameaçadas…Jogo esquisito.
Você realmente tem certeza que o jogo é outro, quando os vitoriosos formam um corredor e cumprimentam juízes e derrotados (dá para imaginar o Carlos Amarilla passando no meio de um corredor humano após a eliminação do Corinthians na Libertadores ?). Os derrotados não se escondem no vestiário, encaram a sua torcida e parabenizam os campeões. Assim foi a final da Champions League. Não dá para dizer que é mais ou menos legal que o nosso futebol, mas é preciso dizer que é um outro jogo, uma espécie de primo distante.
Publicado em Futebolístico
Avesso
É fantástico este campeonato paulista. Você joga 19 jogos, consegue a sua classificação em uma boa posição e isto te dá o incrível direito de jogar em casa no momento da decisão. Nada além disto, nem sequer a vantagem do empate. Se empatar, pênaltis, sem prorrogação. Na hora da decisão, em que finalmente o interesse e a audiência aparecem, cria-se uma fórmula com um mata-mata só de ida (ou seja, “mata”). É tudo ao contrário…Esquisito. Para estar alinhado com este iluminado campeonato, o São Paulo, que um dia se auto-proclamou soberano, lança um uniforme para comemorar as novas cadeiras do estádio. Sim, uniforme vermelho “cadeira”. Uniforme novo, jogo decisivo, bom público, TV, bom retorno para os patrocinadores, certo ? Errado. Conseguiram fazer um uniforme em que as marcas dos patrocinadores e o distintivo do clube, não aparecem. Foram colocadas em uma espécie de marca d’água. Parece que a camisa está do avesso…O seu adversário, a Penapolense, também não deixou barato, optou por uma versão uniforme “abadá”, com umas dez marcas de todas as cores, sobre um fundo listrado. Na verdade,o que está do avesso é este campeonato. É uma aula de como fazer para não atrair atenção de torcedores e patrocinadores.
Publicado em Esporte, Futebolístico, Marketing
O dono da bola
Bons tempos em que os donos da bola tinham alguns privilégios. Ser o dono do objeto principal de um jogo de futebol era garantia de presença no time titular, mesmo que fosse para ser goleiro. Qualquer ameaça de substituição por parte dos craques do time, era prontamente respondida com uma nova ameaça de levar a bola embora e interromper a partida. Melhor manter o “grosso” no time do que não ter jogo…Bolas de capotão eram objetos de desejo, sonhados presentes para noites de natal, eram cuidadas com afeto. Quantos muros não foram pulados, campainhas tocadas, moitas reviradas, carros parados, em busca de uma bola idolatrada e que escapou das quatro linhas ?
Eis que veio a popularização das bolas, materiais sintéticos, preços em queda nas Decathlon da vida, foram transformadas em itens de coleção e não mais de idolatria. Resultado: cada criança chega para jogar com a sua própria bola. Deixaram de ser brancas e ganharam cores e adereços. Bolas laranjas ? Desde quando temos neve por aqui ? As bolas deixaram de ser amadas e passaram a ser funcionais. Jogos de crianças começam com fartura de pelotas…uma em campo, quatro ou cinco aguardando do lado de fora.Intactas,virgens, sem sinais de dor ou cicatrizes. Hoje em dia ser dono da bola não garante mais vaga de titular…hoje é preciso ser dono do campo.
Publicado em Futebolístico, Kids, Reflexivo
As partes e o todo
Estive no Japão para assistir o Corinthians jogar o Mundial de Clubes. Muito mais do que o título, o que gerou uma enorme repercussão foi a nossa torcida. Torcida no sentido coletivo. O bando que atravessou o mundo, a festa, a interação com os japoneses. Ninguém falou dos indivíduos que estavam lá. Provavelmente o idiota que atirou o sinalizador e matou o menino na Bolívia, passeou pelas ruas de Tokyo e quem sabe não confraternizou comigo após o gol do Guerrero. Mas isto não importou em dezembro: o todo era maior do que as partes e nós como corinthianos sentimos um orgulho enorme disto. Sempre dissemos que somos uma torcida que tem um time e não vice versa…Nos auto-proclamamos nação.
O fogueteiro agora tem que ser encontrado e punido mas indiretamente ao matar o garoto, ele conseguiu um outro feito: feriu o coletivo. O peito estufado com que eu fico quando conto as aventuras da epopéia japonesa deu lugar a uma vergonha equivalente por conta do falatório pós-jogo de Oruro. A nossa torcida foi novamente notícia em todo o mundo mas com manchetes bem diferentes das que vimos no Japão. O orgulho deu lugar a uma vontade de se esconder por um tempo…O sujeito manchou a nossa imagem. Isolar a história e dizer que foi um ato independente, que não tem nada a ver com o Corinthians me incomoda…Não será o fulano desaparecido que ficará com a fama de assassino. Seremos todos nós, aqueles mesmos que ficaram com a fama de loucos apaixonados na invasão do Maracanã, na invasão japonesa e em tantos outros momentos da história de nosso time. Jogar com os portões fechados ficou barato e acho que a nossa torcida ao invés de reclamar e protestar da decisão, deveria acatar , concordar e reconhecer que pisamos (no sentido coletivo…) feio na bola. Isto é postura de líder…Isto nos faz diferentes. É tempo de dar uma pausa…respirar um certo luto futebolístico e três jogos com estádios vazios podem fazer este papel.
Publicado em Corinthians, Esporte, Futebolístico, Reflexivo
Dilemas do Leonel
Hoje Leonel acordou entediado…Lá vou eu de novo, ter que aguentar horas de discursos até pegar mais um troféu. Não sei nem onde colocar mais este cacareco…Não está cabendo na estante ! Ainda terei que agradecer em público…um ano falei da importância dos meus pais, no ano seguinte agradeci o Xavi e Iniesta, depois disse que não seria nada sem a minha esposa. E agora ? Quem coloco no discurso ? Que tédio…Ir para a Suiça, passar frio só para carregar mais um enfeitizinho dourado. E os jornalistas ? Tudo de novo…as mesmas perguntas. E o olho gordo do Cristiano Ronaldo, me fuzilando ? Já sei…Vou arrasar este ano. Se colocar uma melancia no pescoço vai pegar mal, então eu vou fantasiado de smoking de bolinha. Minha roupa chamará mais atenção que o resto. Ninguém acreditará. Ficarei livre ! Se a estratégia der certo, ano que vem vou fantasiado de Carmem Miranda. Ou melhor, para evitar conflitos com os vizinhos brasileiros eu vou de dançarino de tango ! Já cansei de ser o melhor jogador de futebol do mundo, agora quero me divertir. Se vão falar de mim, pelo menos arrumem outro assunto. Me valorizem por outras coisas !
Publicado em Cotidiano, Futebolístico