Bons tempos em que os donos da bola tinham alguns privilégios. Ser o dono do objeto principal de um jogo de futebol era garantia de presença no time titular, mesmo que fosse para ser goleiro. Qualquer ameaça de substituição por parte dos craques do time, era prontamente respondida com uma nova ameaça de levar a bola embora e interromper a partida. Melhor manter o “grosso” no time do que não ter jogo…Bolas de capotão eram objetos de desejo, sonhados presentes para noites de natal, eram cuidadas com afeto. Quantos muros não foram pulados, campainhas tocadas, moitas reviradas, carros parados, em busca de uma bola idolatrada e que escapou das quatro linhas ?
Eis que veio a popularização das bolas, materiais sintéticos, preços em queda nas Decathlon da vida, foram transformadas em itens de coleção e não mais de idolatria. Resultado: cada criança chega para jogar com a sua própria bola. Deixaram de ser brancas e ganharam cores e adereços. Bolas laranjas ? Desde quando temos neve por aqui ? As bolas deixaram de ser amadas e passaram a ser funcionais. Jogos de crianças começam com fartura de pelotas…uma em campo, quatro ou cinco aguardando do lado de fora.Intactas,virgens, sem sinais de dor ou cicatrizes. Hoje em dia ser dono da bola não garante mais vaga de titular…hoje é preciso ser dono do campo.