Ontem fomos jantar no L’Entrecote d’Olivier , mais um daqueles restaurantes que tem apenas um prato. Você vai lá e o máximo que faz é escolher a sua bebida e o ponto de sua carne. O resto está definido: salada verde, o entrecote (um bife com grife) e as batatas fritas. Não é muito diferente de ir ao Bolinha com sua feijoada ou a outros lugares que fizeram sua fama baseados em um prato só, como o Bar do Alemão com seu Bife à Parmeggiana. Sempre fiquei pensando na moleza que é administrar este tipo de restaurante em que todo mundo pede a mesma coisa: fornecedores definidos, compras em escala, giro mais rápido de mesa, menos treinamento dos garçons. Deve ser o sonho de qualquer dono de restaurante.
Durante o jantar no entanto ,tive um insight na outra direção: como deve ser difícil gerir a frustração do chef…O coitado não pode criar nada, não está autorizado a colocar sequer uma salsinha para enfeitar o prato e se o restaurante sobreviver, tem uma perspectiva de ficar fritando bifes com batatas pelas próximas décadas . Experiências em seu currículo ? Fritar bifes com batatas…Fiquei pensando no Olivier tentando motivá-lo…ninguém frita bifes como você ! A sua batata frita é a melhor do mundo, continue assim ! E os feedbacks ? Sinto que você pode melhorar no seu bife mal passado…ajuste um pouco mais a espessura da batata para que ela fique mais crocante… Deve ser um tédio… o coitado do chef tem que fazer produção industrial na sua cozinha e absolutamente ninguém reconhece as suas potenciais virtudes de inovação. Sensação parecida deve ter o diretor de arte premiado com leões em Cannes fazendo campanhas de dia das mães para as Casas Bahia…um verdadeiro choque de realidades em que a criatividade não tem muita vez. Ah, o jantar ? Comida honesta, mas a companhia estava bem melhor que o bife com batatas.