Depois de dez anos chegou a hora de renovar o meu visto para entrada nos Estados Unidos.
Eu nunca havia ido ao consulado. Todos os meus outros vistos anteriores haviam sido providenciados por despachantes e as histórias que ouvia sobre o processo, para mim eram apenas lendas e exageros. Bem, ontem foi dia de testemunhar e vivenciar a experiência. Antes de chegar já vem os alertas: celulares e eletrônicos não são permitidos (o meu token do Banco Itaú é qualificado como um eletrônico de última geração e também não entra), o que fez prosperar o negócio dos guarda volumes na região. Por R$ 5,00 eles se encarregam de proteger os seus bens. Horas de espera (no meu caso, sendo liberado de fazer a entrevista, foram 3 horas admirando a minha senha número 3161) permitem que você observe as pessoas…2 grupos distintos: o grupo 1 é composto por executivos engravatados aborrecidos com as filas, preocupados com os seus compromissos da sequência da tarde e fazendo cara de que vão com tanta frequência para os EUA que chamam o Obama de Barack… exalam um ar de menosprezo e repulsa pelo processo e ficam isolados, solitários. Já o outro grupo é bem mais divertido: pessoas que estavam lá pleiteando o seu primeiro visto. Um grande contingente de estudantes, famílias indo para as férias na Disney e aqueles que ainda acreditam que podem “fazer a América” pensando em conseguir um trabalho por lá. Este grupo ao contrário, transpira tensão. Não sabem se obterão ou não o visto…Trazem pilhas de documentos, compartilham entre si histórias escabrosas de pessoas que tiveram seu visto negado, analisam quais pessoas nos guichês tem uma aparência mais amistosa, trocam dicas sobre o que falar e o que não falar para o entrevistador. Sente-se no ar uma cumplicidade e solidariedade. Um “torcendo” pelo outro…
O mais interessante é no final…depois de todo o longo circuito interno com triagem de documentos, digitais e entrevistas, ainda há uma fila do “Sedex”, onde se fazem os pagamentos para que os passaportes já com o visto, sejam remetidos de volta aos seus donos. As pessoas do grupo “executivo” mantém a sua aparência blasé…entendiadas em encarar mais meia hora de fila. Já o time do grupo 2 não esconde a alegria pela conquista. Sorriem, se cumprimentam mutuamente e compartilham os seus planos de viagem aos Estados Unidos. A sensação de inclusão social é enorme! Todos foram aceitos no chamado “primeiro mundo” e estão ansiosos para colocar os chapéuzinhos com as orelhas do Mickey e comprar eletrônicos na Best Buy.
Valeu pela etnografia do dia mas fico feliz de apenas ter que passar por isto novamente daqui uma década….
Nós vamos invadir a sua praia
Publicado em Cotidiano, Etnografia, Viagem
Ando tão otimista que acredito que daqui a 10 anos brasileiro não vai mais precisar de visto pra ir pros EUA.
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nem fala Lucas! tomara que vc esteja certo, mas acho que este processo de etnografia ainda vai continuar por muitos e muitos anos….
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Pois é, Mari… Mas você há de convir que, atualmente, um passaporte Grego, valer mais que um passaporte brasileiro é uma baita sacanagem…
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O governo da Flórida já está fazendo lobby há algum tempo para acabar com o visto para brazucas. Tudo em função do alto consumo médio dos brasileiros que visitam os EUA. Não sei…agora esta decisão não vai mudar nada para mim nos próximos 10 anos
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http://exame.abril.com.br/economia/brasil/noticias/tursita-brasileiro-e-o-terceiro-que-mais-gasta-nos-eua-diz-jornal
Exato, Cris…
É algo bem expressivo… Lembro que da última vez que fomos para os USA, o próprio cara da Alfândega nos falou para não esquecermos de gastar bastante dinheiro…
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