Leio nos jornais que o Playcenter irá fechar e passar por uma transformação radical. Nos últimos anos o parque ficou mais conhecido por arremessar as crianças de seus brinquedos do que por alimentar o imaginário infantil. No passado não era assim. O acesso a Disney era algo intangível e as fantasias e os sonhos de se passar um dia no parque de diversões não chegavam até Orlando. Eles paravam na Marginal Tietê.
Ir ao Playcenter era uma ocasião especial, aguardada por todos. Sou capaz de me lembrar da Montanha Encantada, dos carrinhos de bate bate, do labirinto de espelhos e até da Monga, a mulher-macaca, mas talvez a minha maior lembrança seja das bolas infláveis gigantes, brancas, com pinceladas de tintas de todas as cores. As bolas eram conquistadas enchendo a boca do palhaço ou apostando no cavalo certo no derby. Chegar em casa com a bola na mão era uma conquista e era a senha para contar e recontar as histórias do dia.
O tempo passou, vieram noites do terror, parque fechado para raves de rádios de gosto duvidoso, Hopi Hari, dólar mais barato e o Playcenter foi ficando cada vez mais longe. Nos últimos anos eu passava pela marginal e não entendia como um espaço daquele tamanho poderia sobreviver no meio da cidade. Não tinha jeito….Era como se o passaporte da alegria tivesse dado lugar a um passaporte para a melancolia, vivendo das memórias e apenas justificando os seus seguidos problemas de manutenção. Junto com o Playcenter se vai um pouco da minha infância.