Confesso que a perspectiva de assistir duas horas de uma história de um menino náufrago que é forçado a conviver em um bote com um tigre feroz não me entusiasmava muito. Pior ainda quando os meus filhos, críticos impiedosos, qualificaram o filme como entediante. 11 indicações para o Oscar e empolgação generalizada de pessoas que saíram do cinema transformadas e espiritualizadas me fizeram dar uma chance para “As Aventuras de Pi”. Fiquei com a convicção de que assisti “O Náufrago 2” em que saem de cena Tom Hanks e o avião da Fedex, e são substituídos por um menino indiano e um navio japonês. O jovem Pi é mais atual e globalizado…ele está se mudando da Índia para o Canadá, afunda perto das Filipinas, é resgatado no México e de brinde tem um nome dado em homenagem as “Piscines” de Paris…
Mas a moral da história é que quando surgia na tela Richard Parker (sim, este é mesmo o nome do tigre de Pi…nada de Sansão, Brutus ou algo do gênero) eu tinha certeza que ele era a versão felina da bola Wilson com a qual Chuck Noland, personagem de Hanks, interagia o tempo inteiro em “Náufrago”. O roteiro é todo em torno de projeções, angústias, solidariedade, amizade,medo, esperança… Wilson era redonda e muda e Richard Parker tem quatro patas, urra e come peixe mas para mim o tigrão é uma reencarnação da bola. Sim, “Pi” tem uma fotografia bonita, efeitos especiais que fazem com que o tigre seja perfeito e um jovem ator indiano que se destaca mas não voltei para casa me sentindo uma pessoa melhor…”Pi” não me tocou muito…Meu espírito está mais para Django.