Várias vezes quando estou andando pelas ruas e avenidas da cidade fico pensando quem foi o cidadão que fez por merecer a homenagem de ter o seu nome eternizado pela prefeitura naquela obra. O engenheiro Roberto Zuccolo é um dos meus favoritos. A ponte que um dia se chamou Cidade Jardim, leva o seu nome e acho que exceto pela sua família, ninguém sabe quem ele foi ou é. Hoje vi que o ex-jogador Sócrates que morreu recentemente é candidato a virar nome de praça…
Em momentos egocêntricos, fico imaginando que tipo de homenagem a sociedade me prestará quando eu partir desta dimensão para novos desafios no reino do além… De modo humilde, acho que não gostaria de ser perpetuado sob a forma de uma ponte ou uma avenida. Caminhões bateriam em mim, haveria buracos, enchentes…Enfim, minha memória seria mais xingada do que reverenciada. Além disto, homenagem depois de morto não serve para muita coisa…
Minha fonte de inspiração no momento é o tenor espanhol Plácido Domingo. Em comemoração ao seu aniversário de 70 anos, ele teve um avião da Iberia batizado com seu nome. Foi o primeiro espanhol a ter esta honra em vida.
Legal para ele e para quem voa a bordo do Plácido Domingo! Quem sabe um dia ele não de uma colher de chá a bordo e cante “Perhaps Love” para os outros passageiros ? Talvez em função da minha falta de habilidade no karaoke a TAM ainda não tenha decidido copiar a Iberia e batizar um avião em meu nome. Vou treinar mais…
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Corinthiano,maloqueiro e sofredor
Não gosto muito de discutir paixões clubísticas…cada um tem direito de escolher seu time e todos devem se lembrar de que apesar de tudo, futebol é apenas um esporte. Rivalidade é gostosa, serve para você atormentar os seus colegas de trabalho quando o seu time ganha e também para ser atormentado quando perde. Violência por causa time de futebol é ridícula e coisa de homem das cavernas…
Para mim, mais do que paixão, futebol serve para quebrar gelo e construir pontes, em qualquer ambiente, com qualquer classe social em todos os lugares do mundo. Ainda não encontrei nada mais universal e que fosse tamanho ponto de conexão entre as pessoas.
Ser corinthiano dentro deste contexto é uma dádiva. O que conecta e integra os corinthianos não é um sobrenome italiano como os que tem os palmeirenses, o orgulho de ser da elite como imaginam ser os são-paulinos ou uma devoção eterna ao passado como a que tem os santistas. Ser corinthiano é ser maloqueiro e sofredor mesmo quando se paga uma fortuna para conseguir um ingresso da final no câmbio negro e se volta para casa de carro importado. É estado de espírito. É diferente e por isto é especial. Os outros times também tem torcida (pequenas é verdade) mas é a torcida do Corinthians que tem um time e determina o seu espírito e quais são os seus valores. É “top down”…ou se adapta ou não joga…Quem já pulou e cantou com o grito de que “Aqui tem um bando de loucos” sabe do que estou falando. Quem participou do minuto de silêncio pela morte do Sócrates entende…
Nesta hora não tem cor, não tem renda, pode ter ou não ter dente…A saída de ontem pelo portão principal do Pacaembu com a turma do Pavilhão Nove e da Gaviões foi uma aula avançada de etnografia. Todos diferentes, cada um vindo de um canto mas coesos: naquela hora éramos todos corinthianos, maloqueiros, sofredores….e felizes.
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