Os protestos dos últimos dias em São Paulo geraram comentários intransigentes sobre o papel da polícia nos episódios (tem a turma dos pró, tem a turma dos contra), tratados ideológicos sobre o que representam R$ 0,20 ( tem a turma do “isto não é nem troco”, tem a turma do “imagine o impacto do aumento para quem vive com menos de um salário mínimo”). O que mais me chama a atenção no entanto, é a visão semi-unânime de crítica a quem está comandando as manifestações, que não seriam aqueles que realmente precisam. São jovens brancos, barbudinhos e tatuados que documentam os seus protestos com IPhones e Androids e os compartilham em redes sociais. Eles estariam no lugar errado…Eles não teriam direito de protestar. Esta causa não lhes pertenceria.Tem uma vida boa, portanto deveriam se calar. No máximo poderiam se mobilizar para falar da falta de cobertura da rede 4G de seus celulares, da fila na Polícia Federal quando chegam de viagens internacionais ou do preço dos ingressos dos shows. Os mesmos que os acusam de arruaceiros e rebeldes sem causa, são os que os chamam de alienados e não politizados. Que resgatam histórias distantes de juventude nas ruas para pedir eleições diretas para presidente ou para reivindicar o impeachment de Fernando Collor….Na visão geral, brigar pelo preço da tarifa de ônibus deveria ser um direito apenas de quem efetivamente utiliza transporte público. Esquecem que ter acesso a transporte público de qualidade é um direito de todos, independentemente da classe social de que se venha. Antes de ser “jovens classe média”, são todos cidadãos. Pacatos cidadãos. Se como cidadãos estão se mobilizando pelos seus direitos que deveriam ser assegurados pelo estado como transporte, educação, saúde, porque criticá-los ? Que bom que acordaram e perceberam que eles também tem direitos e podem exigí-los…Tenho dificuldade de entender o que há de errado nisto e não estou falando que algo justifique quebra quebra ou depredação…Estou falando da mobilização e da tomada da consciência da maioria e a maioria não é composta por vândalos e nem por depredadores. Não acredito que alguém queira se arriscar a tomar uns tiros de bala de borracha (por enquanto ainda são de borracha…) apenas para ter um roxo no corpo para poder postar e ter likes no Instagram e no Facebook…É subestimar demais o papel e a inteligência dos jovens.Estamos acordando.
Arquivo diário: 15/06/2013
Pacato Cidadão
Publicado em Cotidiano, Etnografia, Reflexivo