Sonho de Ícaro

O trekking acabou. Volto para Pokhara. Reencontro a civilização e me despeço do guia e do carregador e agora é aproveitar o dia que terei por lá.

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Vista de Pokhara. Suiça #SQN

A cidade é muito bonita. Tem um lago enorme que é cercado pelas montanhas que eu havia visitado. Poderia enganar os mais chiques e dizer que estava em algum lugar na região dos Alpes.

Para não perder o ritmo de atividade física planejo subir até uma estupa, monumento budista de onde se tem a vista para a cidade toda.  Para chegar lá primeiro cruzo o lago em uma canoa a remo, conduzido por um local que dá as suas remadas sem muita disposição. Por USD 3,00 e meu peso, eu compreendo a falta de disposição do cidadão. 20 minutos depois, lago cruzado e hora de começar a subida de uma hora até a estupa. Céu azul, vista das montanhas.

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Paragliders no céu…Bateu aquela vontade de voar.

Naquele cenário com o qual estava me acostumando, o que chama minha atenção são uns 20 paragliders no céu. Paragliding é como uma mistura de paraquedas com asa delta… você salta de uma montanha e o vento/correntes aéreas te levam. Esta definição está primitiva mas é o máximo que consigo elaborar com todo o meu conhecimento de engenharia aeronáutica. Eu havia lido que Pokhara era um dos melhores lugares do mundo para se voar. Neste instante se estabelece um duelo em minha mente entre ter a experiência de voar e abandonar a idéia por uma certa desconfiança na real escola nepalesa de formação de pilotos de paragliding.

No volta, depois de descer tudo o que subi, pegar o barquinho a remo, cruzar o lago deixo o espírito de aventura vencer. Peço uma dica na recepção do hotel e em segundos estou na garupa de um motoboy que me leva ao encontro dos demais aventureiros. Lá vamos nós montanha acima. Capacete na cabeça, sou orientado pelo meu comandante já atracado nas minhas costas. “Quando o vento estiver bom, se eu disser ande, você anda. Se eu disser corre, você corre”. Nada além disto. Não parece muito complexo e depois de alguns minutos esperando uma rajada que aguentasse me levantar (basicamente um tufão), lá estávamos nós nos céus. O voo dura uma meia hora, é seguro, a temperatura agradável e a paisagem com o lago e a cordilheira são sensacionais. O único desconforto é quando o capitão pergunta se eu gosto de acrobacia. Claro, why not ? E de repente lá estava eu me sentindo como uma fruta deve se sentir ao ser convocada para fazer parte de uma vitamina em um liquidificador. Girando em círculos a toda velocidade. Não recomendo para um pós almoço.

O pouso é suave e a sensação de ter voado é melhor ainda. Se alguns minutos antes eu me sentia como um ingrediente de uma vitamina, agora me sentia completamente vitaminado.

A jornada começa

A minha aventura de caminhar até o acampamento base do Annapurna  está se iniciando.  Annapurna é a décima montanha mais alta do mundo com 8091m e fica no Nepal. Serão 7 dias até chegar a 4200 metros. Não, Annapurna não é o Everest (assim como Buenos Aires não é a capital do Brasil)…ficam bem distantes um do outro.  O trekking para se chegar ao Everest é mais longo (mais ou menos 15 dias) e mais monótono em termos de paisagem. Uma semana andando e vendo montanha para mim já está de bom tamanho. Certamente não estou sozinho, pois a trilha para o Annapurna Base Camp (ABC para os mais chegados) é a mais popular do Nepal, sendo visitada por 20.000 pessoas anualmente.

IMG_0866.jpgA epopéia começa no aeroporto de Kathmandu, de onde voarei até Pokhara, cidade que é uma espécie de hub para todas as expedições que saem rumo ao Annapurna. No check in sou convidado a subir na balança e sou pesado junto com as malas. Não sei se é um bom sinal e qual seria a minha solução para uma reclamação de excesso de peso mas de qualquer maneira, juntamente com o meu guia subo a bordo do teco teco. Como gesto de simpatia, a aeromoça passa servindo balinhas e oferecendo também chumaços de algodão para amenizar o barulho. Apesar das perspectivas, o voo é muito tranquilo e leva uns 25 minutos.

2:30h depois de uma viagem em um jeep sacolejante, chegamos no local de início de nossa caminhada e parada para almoço. Em um momento de comunhão universal lá vamos o guia, o carregador e eu compartilharmos o prato do dia. Arroz, sopa de lentilhas, curry de vegetais e algo que estou tentando identificar. É um pf tipico nepalês chamado Dal Bhat e que me perseguirá nas refeições por vários dias. A questão é que os dois literalmente metem a mão na cumbuca. Segue o jogo…vou ser mais tolerante com os cotovelos na mesa e a boca aberta dos meus filhos.

IMG_3801.jpgComecamos a caminhada. 4:30h depois chegamos a nossa primeira parada. 1200m de altitude, ou seja mais baixo que Campos do Jordão. Montanhas apenas no pensamento. Calor e verde. Não sei se chamo o local de pousada, hotelaria, pensão, guest house ou para ser mais específico, espelunca. A atração do local chamado Ghorepani, são piscinas de águas termais. Chegamos com tudo escuro mas o guia me estimula a relaxar nas tais termas. Ponho minha sandália flip flop e vamos no escuro. Espírito de aventura é isto. Vamos deixar hábitos coxinhas para trás…Percebo então que as termas ficam na margem de um rio que eu ouvia remotamente, a 25 minutos de distância pela mesma rota em que alguns instantes antes eu desfilava de botas. Minhas havaianas me dão sinais de alerta e começam a soltar as suas tiras. No breu, aborto a missão e proponho retornarmos para o nosso momento “canja” às 6am. Ele aceita.

Meu jantar ,servido às 6:00 horas como passaria a ser rotina, é “fried rice” com vegetais. A felicidade de estar em um quarto sozinho dura pouco. Adormeço. As paredes são de compensado de madeira e os meus vizinhos começam a transar loucamente. O barulho era tamanho que parecia que eu estava participando de um manage e que o casal havia invadido o quarto. Eles estão ritmados. Chegam ao seu momento de prazer juntos e eu também fico muito feliz. Vem o silêncio e posso então tentar dormir.

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