Termas e Namaste

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As termas no Trekking – Ghorepani

Começo o dia descendo para a tal da terma que havia ficado pendente do dia anterior. O guia (o nome dele é Joti Lamsal, tem Facebook, está aberto a fazer amigos de todas as partes do mundo e se comunica bem em um dialeto que é uma mistura de inglês com nepalês), meu fiel escudeiro, vem comigo e  tranquilão, mergulha de cueca sem medo de ser feliz.Mesmo do outro lado do mundo e sem ninguém me observando, eu prefiro ser mais conservador e levo um shorts.

Recompostos, recomeçamos a trilha. Começar a fazer exercício depois de ter ficado em imersão em água morna, tipo frango na canja não foi das idéias mais iluminadas que já tive. Caminhada dura, muito, muito íngrime e eu naquela moleza pós banho termal. Cheguei ao Nepal preocupado com os sintomas da altitude, começo a sentir os sintomas da falta de comunicação e suas perspectivas. Quanto mais andamos em direção às montanhas mais escassas as chances de celular, wi-fi , eletricidade etc…será um detox. Na teoria estava preparado mas não lido muito bem com isto. Não há escolha. A paisagem é bonita, verde intenso, cachoeiras, rios cristalinos, macaquinhos saltitantes. Lembra a serra do mar. Faz calor e eu caminho de bermuda e camiseta.IMG_0914.jpg

O esquema de como será o trekking agora está ficando claro…cada um dos vilarejos por onde iremos passar tem algo para os turistas . Ou melhor, os turistas fazem com que exista o vilarejo. Na maioria dos casos, só abrem na temporada e são instalações bem rústicas onde você pode comer e dormir. O critério de reserva de acomodação é o seguinte: chegou primeiro pegou uma cama (eu disse cama, não um quarto). Se não  tiver lugar, caminhe por mais 2 horas e tente a sorte no próximo. Tem bastante gente na trilha, alguns como eu, subindo em direção ao Annapurna Base Camp e aqueles que já estão em viagem de volta. Você encontra pessoas de todos os cantos mas há uma alta concentração de coreanos e russos. É obrigatório se cumprimentar com Namaste, saudação local. Acho meio ridículo e respondo “Vai Corinthians…”. Quando a pessoa resolve colocar as mãozinhas em forma de emoji, eu subo um nível e respondo “Aqui é Corinthians, porra”. Todos sorriem e agradecem.

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Namaste ? Aqui é Corinthians

Depois de 7 horas em marcha chegamos na nossa segunda parada, Dovan. Já estamos mais altos – 2800m e o clima muda completamente. Faz mais frio, as árvores tem cores de outono. Pago US$ 2,00 por um banho quente – só veio a água, o calor ainda não chegou. Pés doem, formigam com a água gelada. Jantar é pontualmente às 6. Sensações estranhas. O esforço do corpo na maior parte do tempo bloqueia os pensamentos…de vez em quando porém, entro em um modo piloto automático e as idéias vão e voltam. Saudades e mais do que tudo a angústia de não poder se comunicar. A natureza me alimenta. O esquema perrengue de acomodação ainda me irrita.

A jornada começa

A minha aventura de caminhar até o acampamento base do Annapurna  está se iniciando.  Annapurna é a décima montanha mais alta do mundo com 8091m e fica no Nepal. Serão 7 dias até chegar a 4200 metros. Não, Annapurna não é o Everest (assim como Buenos Aires não é a capital do Brasil)…ficam bem distantes um do outro.  O trekking para se chegar ao Everest é mais longo (mais ou menos 15 dias) e mais monótono em termos de paisagem. Uma semana andando e vendo montanha para mim já está de bom tamanho. Certamente não estou sozinho, pois a trilha para o Annapurna Base Camp (ABC para os mais chegados) é a mais popular do Nepal, sendo visitada por 20.000 pessoas anualmente.

IMG_0866.jpgA epopéia começa no aeroporto de Kathmandu, de onde voarei até Pokhara, cidade que é uma espécie de hub para todas as expedições que saem rumo ao Annapurna. No check in sou convidado a subir na balança e sou pesado junto com as malas. Não sei se é um bom sinal e qual seria a minha solução para uma reclamação de excesso de peso mas de qualquer maneira, juntamente com o meu guia subo a bordo do teco teco. Como gesto de simpatia, a aeromoça passa servindo balinhas e oferecendo também chumaços de algodão para amenizar o barulho. Apesar das perspectivas, o voo é muito tranquilo e leva uns 25 minutos.

2:30h depois de uma viagem em um jeep sacolejante, chegamos no local de início de nossa caminhada e parada para almoço. Em um momento de comunhão universal lá vamos o guia, o carregador e eu compartilharmos o prato do dia. Arroz, sopa de lentilhas, curry de vegetais e algo que estou tentando identificar. É um pf tipico nepalês chamado Dal Bhat e que me perseguirá nas refeições por vários dias. A questão é que os dois literalmente metem a mão na cumbuca. Segue o jogo…vou ser mais tolerante com os cotovelos na mesa e a boca aberta dos meus filhos.

IMG_3801.jpgComecamos a caminhada. 4:30h depois chegamos a nossa primeira parada. 1200m de altitude, ou seja mais baixo que Campos do Jordão. Montanhas apenas no pensamento. Calor e verde. Não sei se chamo o local de pousada, hotelaria, pensão, guest house ou para ser mais específico, espelunca. A atração do local chamado Ghorepani, são piscinas de águas termais. Chegamos com tudo escuro mas o guia me estimula a relaxar nas tais termas. Ponho minha sandália flip flop e vamos no escuro. Espírito de aventura é isto. Vamos deixar hábitos coxinhas para trás…Percebo então que as termas ficam na margem de um rio que eu ouvia remotamente, a 25 minutos de distância pela mesma rota em que alguns instantes antes eu desfilava de botas. Minhas havaianas me dão sinais de alerta e começam a soltar as suas tiras. No breu, aborto a missão e proponho retornarmos para o nosso momento “canja” às 6am. Ele aceita.

Meu jantar ,servido às 6:00 horas como passaria a ser rotina, é “fried rice” com vegetais. A felicidade de estar em um quarto sozinho dura pouco. Adormeço. As paredes são de compensado de madeira e os meus vizinhos começam a transar loucamente. O barulho era tamanho que parecia que eu estava participando de um manage e que o casal havia invadido o quarto. Eles estão ritmados. Chegam ao seu momento de prazer juntos e eu também fico muito feliz. Vem o silêncio e posso então tentar dormir.

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