
Rumo a Machhapuchhere
O objetivo agora é chegar no Machhapuchhere Base Camp e a caminhada será morro acima. Embora Machhapuchhere, tenha o seu pico a 7000 m, seja uma montanha sagrada para os locais e portanto proibida para escalada, neste trekking ela é tratada como uma espécie de primo pobre do Annapurna. Oscar de montanha coadjuvante. Ninguém fala na coitada e ela deve ir para a terapia, sofrendo de complexo de rejeição. Como o nome da montanha é impronunciável, convencionou-se chamá-la de Fish Tail, ou rabo de peixe. O apelido deve ter vindo de algum mochileiro em um momento de delírio da altitude potencializado por alguma droga ilícita, porque de peixe a montanha não tem nada.
A vegetação que antes parecia a mata atlântica, vai escasseando e mudando de cor, primeiro aparece uma floresta de bambus, depois uma floresta de plátanos e finalmente apenas vegetação rasteira. A paisagem de montanhas é incrível e começa a ser companhia constante no trekking. Talvez deslumbrado demais, consigo a proeza de escorregar em uma pedra e mergulhar em um riacho gelado. Cena ridícula, perigosa e aquele pensamento de “o que estou fazendo aqui ?” veio a tona. Lembro de alguns amigos que desconfiados do meu estado atlético disseram que se encarregariam de buscar as minhas cinzas caso eu ficasse pelo Nepal…quase vieram.

Banho não programado
Roupa trocada e seco, continuamos. A trilha é cada vez mais vertical e a caminhada vai ficando mais lenta também por conta da altitude. Estamos acima de 3000m. Meu guia me recomenda que eu tome chá de alho na próxima parada para ajudar na aclimatação. Não sei se foi isto o responsável por eu não ter sentido nenhum sintoma mas me garantiu um bafo de leão por horas.
Começa a garoar, a garoa vira uma neve leve e a montanhas ficam escondidas atrás das nuvens. Baixa um fog gigante.
Chego na hospedaria que já está a 3700m. Sou agraciado com um quarto a ser dividido com um senhor búlgaro que tem aparência de espião da KGB. Hora de esquecer as vaidades e observar em volta as montanhas soberanas. O visual é maravilhoso. O fog dissipa, o céu tem tantas estrelas como carros no trânsito de São Paulo e o nascer do sol ilumina os picos nevados. Estou onde eu queria estar.

Uau…
Maravilha, Cris! Keep walking.
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